
Tem certos artistas que nós costumamos dar atenção tarde demais, mas antes tarde do que nunca. Semanas atrás fui ao
show do cantor pernambucano
Otto, e me surpreendi com a qualidade da música, da banda, e da sua performance. Já tinha ouvido algumas músicas em trilhas de novela, ou através de amigos que curtem o som e seu estilo, mas nunca tinha prestado atenção, até que um dia baixei o seu disco mais recente,
Certa manhã acordei de sonhos intranquilos, e adorei.
O título do disco foi extraído da obra
"Metamorfose", de Franz Kafka, e explica o inferno astral que o cantor vivia naquele momento, tinha se separado da mulher, perdeu a mãe e afilhada, e ainda estava sem gravadora. Mas, foi no fundo do poço que ele conseguiu gravar o álbum que é considerado por muitos o melhor de sua carreira. O disco foi lançado no final de 2009, traz uma sonoridade mais orgânica e menos eletrônica que os anteriores, a melodia se mistura aos ritmos regionais brasileiros com letras cheias de melancolia, em que o artista canta suas dores, saudades e inquietações.
O álbum reúne 10 faixas, sendo que oito são assinadas por Otto e duas são regravações,
"Lágrimas Negras", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina (com participação da mexicana Julieta Venegas, que também canta
"Saudade", já comentei sobre essa excelente cantora aqui no blog) e o samba-canção
"Naquela Mesa", de Sérgio Bittencourt. Destaque também para as canções
“Crua”, a roqueira
“6 minutos”, a experimental
"O Leite" (
"Quando eu saí da tua vida / Bati a porta / Saí morrendo de medo / Do desejo do desejo de ficar"), essa com participação de Céu, e a regional
"Janaína", uma homenagem à Iemanjá, (
"Disse um velho orixá / Pra oxalá, pra acreditar / Pra não temer, temer, temer / Desses tempos verdadeiros / Tempos maus").
Enfim, apesar do disco escorrer por linhas e formas de caos, como o próprio Otto escreveu no encarte, podemos desfrutar de uma obra-prima da música brasileira, cheia de beleza e bom gosto. Afinal, podem nascer flores mesmo num canto de um quarto escuro.
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"Crua".