Alguns posts atrás falei da importância da canção Like a Rolling Stone para a evolução da música e transformação da cultura pop mundial, assim como a revolta dos ouvintes mais tradicionais. Pois bem, hoje falo do Tropicalismo, um movimento de ruptura que transformou o cenário musical e cultural brasileiro no final da década de 60. Como todo movimento que ousa transformar, o caminho foi turbulento, mas fundamental para a evolução da música nacional.
A Tropicália formava um grande coletivo, seus principais representantes eram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto e Rogério Duprat, que contavam ainda com a participação dos Mutantes, Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé. Os tropicalistas rompiam com os preconceitos musicais, as influências estrangeiras eram consumidas para serem recriadas, reelaboradas de acordo com nossas necessidades e interesses, num processo verdadeiramente criador. Na tentativa de universalizar a MPB o grupo buscava incorporar elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica, com procedimentos eruditos, elementos da cultura popular brasileira, misturando rock com samba, com bolero, com bossa nova, com baião. Com essa atitude, eram rompidas barreiras, pop x folclore, alta cultura x cultura de massas, tradição x vanguarda, estabelecendo um novo padrão sonoro e literário para a música brasileira, impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.
A definição da “qualidade musical” no País, pós Bossa Nova, estava cada vez mais dominada pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Então, como toda inovação, o tropicalismo despertou reações de aplausos, mas principalmente indignação. A esquerda radical repudiava o uso da guitarra elétrica, “o instrumento musical do imperialismo”. A apresentação de Gil e Caetano no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, causou impacto no público, em especial nas alas de esquerda mais radical, exatamente pelo uso das guitarras elétricas e pela presença de um grupo de rock – Os Mutantes, era uma espécie de afronta a brasilidade. Um ano depois, no Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo, Caetano, acompanhado pelos Mutantes, defendeu a música É Proibido Proibir e a platéia respondia ferozmente com vaias. Os Mutantes mal tinham começado a tocar a introdução da música e a platéia já atirava objetos e davam as costas ao palco, a reação dos Mutantes foi imediata, sem parar de tocar, viraram as costas para o público, e Caetano fez um longo e inflamado discurso questionando os ideais dos jovens ditos “revolucionários” ali presentes. Eles foram incapazes de reconhecer na música seu caráter de protesto. Grande ironia, jovens tão engajados politicamente, mas intolerantes em relação à música, como lá em “Like a Rolling Stone”, do Bob Dylan.
A irreverência e ousadia do movimento tropicalista transformaram os critérios de gosto vigentes, não só na música e na política nacional, mas também na moral e no comportamento. O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano, pois foi reprimido pela ditadura, mas deixou para sempre sua marca na música e na cultura nacional, a marca da modernidade.
O discurso de Caetano é de arrepiar. Para quem tiver interesse ouça uma parte do desabafo junto as vaias.
O Tropicalismo " É proibido proibir"
Postado por
Ítalo Richard
às
17:56
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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- Ítalo Richard
- Produtor Cultural e estudante de jornalismo. Viciado em café, louco por música e não dispensa uma cervejinha com os amigos.
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37 comentários:
Oi, Ítalo! Foi uma agradável surpresa descobrir seu blog. Gostei do que vi e li. Um blog informativo e inteligente. Parabéns! Permita-me, porém, discordar de você em alguns pontos do seu texto sobre o Tropicalismo. Concordo plenamente quando você diz que tal movimento revolucionou a música brasileira e a estética da música nacional, assim como do cinema, das artes plásticas e um pouco do teatro. Assim como você, também sou fã do Tropicalismo. Entretanto, discordo quando você diz que o movimento transformou o gosto vigente também na política. Se isso ocorreu, o que acho pouco provável, sobretudo pela curta vida do movimento, foi algo sem maior importância, pois como você mesmo observou o Tropicalismo foi perseguido tanto pela direita conservadora que apoiou o regime, quanto pela esquerda "careta" e, também, conservadora. Para mim a grande "revolução" do tropicalismo se restringiu ao âmbito estético e comportamental. Bem, é só isso. Gosto de textos que provocam a reflexão. Voltarei aqui mais vezes. Um abraço, Silvio.
Esse discurso do Caetano é simplesmente foda!
bom,exelente o post e o blog!
Mt massa!
Abraço
http://entrenafaetec.blogspot.com/
bellissimo texto
muito bem escrito
gostei muito do
seu trabalho do seu
blog.
Gostei do blog!
O texto tb é muito bom!
Só falta um pouco de cor!!!
CREIO QUE ATUALMENTE TEMS VIVIDO DE TENDENCIA, E ALGO FRUTO DO MERCADO E A FAVOR DA "MODA DA VEZ", CREIO QUE ESSE TEMPO EM QUE A GALERA LUTAVA POR UM IDEAL, E FAZIA MUSICAS COM PROPOSITOS MUITO ACIMA DE DINHEIRO E FAMA, COISA QUE GRUPOS DE HOJE EM DIA NÃO FAZEM ALEM DE SEREM DESAFINADOS E NÃO ACRESSENTARE NADA AO MUNDO!
VISITA LAH
http://jocumponta.blogspot.com/
Ítalo, amei o jeito folhetim do seu blog.
Cheio de delícias para transbordar os ouvidos e os olhos!
Segui-lo-ei
Legal o texto sobre Tropicalismo... foi realmente "uma batalha" .
Achei bem bacana ^-^
CYA ~
Na faculdade fiz um trabalho sobre Tropicalismo. Tínhamos que fazer um relação entre a Tropicália e a Jovem Guarda que aconteceu quase que na mesma época. Aprendi muito. Lemos e escutamos muita coisa. Tenho as músicas em meu PC até hoje (isso aconteceu em 2004), pois fiquei super fã do movimento.
Muito boa a pesquisa.
Até mais...
Realmente indiscutível a importância do Tropicalismo para a formação de opinião e cultura popular brasileira. Quem diria que a introdução da guitarra elétrica pudesse causar tanta polêmica não é mesmo? Os puristas são extremamente chatos.
Tenho um adicional para o texto: Na mesma época surgiam os Novos Bahianos, que também geraram muita polêmica com os puristas por misturarem samba, bossa e rock em suas canções. Sinceramente não sei se eles tem relação direta com o Tropicalismo, mas de certa forma contribuiram bastante nesse período. E aquele álbum "Acabou Chorare" é magnifico!
[]'s
http://musikaholic.wordpress.com/
apesar de ser um grande fã da música brasileira, não curto muito a onda tropicalista. como o nosso amigo Jonatas falou, Acabou Chorare é maravilhoso, apesar de realmente não ter muito a ver.
abraço
Desde a primeira vez que me encantei com Like a Rollings Stone e compreendi como foi a reação dos fãs de Bob ao ouvir ela... Não consegui entender a intolerância dos "Revolucionários"...
De igual forma com o Tropicalismo e a mistura do nacional com o mundial... Hoje os mix são comuns - e em alguns casos ainda não bem aceitos... Sempre gostei do que este movimento representou para a música Brasileira... Sinto falta desta sensação hoje.
Parabéns pelo texto e blog!
;D
Nunca me interessei muito em escutar essa fase tropicalista, pra ser sincero sou completamente ignorante nessa parte musical de nossa história, mas é estranho mesmo uma música de protesto ser vaiada pelo grande público, pela juventude que se dizia tão engajada contra a repressão da época. Sei lá, ñ entendo mto bem.
Parabéns seu blog é sempre um banho de cultura musical!!!
interessante seu texto...muito bom..
Cara, me identifico muito com o Tropicalismo e a Bossa Nova, o meu Blog tem muito disso, muita influência cultural dessa época... eu vou te seguir e você vai ver a minha fotinha: é o Caetano!
Acho que o meu Blog talvez o agrade. O seu me agradou.
Vou te seguir!
http://francorebel.blogspot.com/
O tropicalismo realmente foi importante. Criou "mitos": Gil e Veloso, porém, também, um injustiçado, Torquato Neto, figura importantissima, e talves a mais importante desse meio.
Não sei se vc já fez, mas se não, fica a dica de fazer um post sobre as "consequências" musicais do tropicalismo, a principal delas para mim, mesmo sendo muito diferente, o Manguebeat.
Sem dúvida o Manguebeat foi fruto do Tropicalismo, e talvez tenha sido o último suspiro de um momento realmente inteligente e de qualidade na música brasileira na década de 90. Boa dica David.
obrigado a todos pelos comentários!
O Tom Zé nunca deixou de ser uma encarnação da tropicália. Ele é "o cara" da trupe, da tropi.
abç
Pobre Esponja
O tropicalismo é de fato um movimento marcante, e um contraponto à jovem guarda. Talvez seja a expressão mais forte de que o Brasil estava de fato mudando. Tropicália me reporta à coragem, ao avesso do óbvio, e ao incorporar diversos elementos de outras culturas musicais, meio que sem querer, mostrava que tudo pode existir harmonicamente. Esse aliás, é um dos principais traços de nossa cultura. Isso é a verdadeira brasilidade, é a aptidão de juntar tudo, e mesmo assim, ser único!
Muito bom o post, e o resgate da "cultura" propriamente dita, ainda mais em tempos que a música está se tornando cada vez mais comercial e menos democrática! Sim, todos pensam que vivemos numa democracia, mas já estamos na ditadura cultural faz algum tempo, e ninguém se dá conta disso!
Abração!
http://estacaoprimeiradosamba.blogspot.com/
O Tropicalismo foi pioneiro na "globalização" da música brasileira, isso já nos anos 60. Misturaram tudo, a tradição e a modernidade. Muita coisa de extrema qualidade saiu daquelas cabeças geniais.
Conheço bem o discurso do Caetano no festival. É mesmo de arrepiar.
Cara, vc escreve bem pra cara*** , seu blog é ótimo, de verdade!
É muito bom ver como você escreve sobre os assuntos com propriedade, eu li o texto sobre Like a Rolling Stone da outra vez que estive aqui, e adorei, gostei novamente. Eu sou completamente apaixonada por música brasileira, e fiz uma Feira Cultural na escola sobre ditadura e merulhei nas músicas da época, é emocionante e triste saber todo o patriotismo que perdemos, e um discurso como o de catano é um tapa na cara. Eu ouço essas músicas tentando me encontrar com aquela juventude, quem sabe um dia?
Visite o meu: http://pontapedepartida.blogspot.com/
Sou mt nova, não vivi essa época, e apesar de saber a respeito do movimento, confesso que não gostava mt do Caetano. Ele subiu no meu conceito, e mt, depois q vi esse discurso. P/ quem não viveu essa época, é meio difícil dimensionar a importância que tiveram artistas como esse.
http://naofazdiferenca.zip.net
Baita Blog, não curto o estilo musical, mas o post ficou mto bom
Parabens
www.ahistoriacomoelafoi.zip.net
Excelente trabalho amigo.
eu estive lá!
foi tenso!
Nossa, realmente o discurso dele foi impressionante!
beijããão :*
Grande ítalo!
Lembrou-se que eu estava curioso para ler seu texto sobre o tropicalismo, hein? E não me decepcionei, mais um texto genial, provavelmente um dos melhores materiais da internet para falar desse movimento (não o mais completo, obviamente, mas o mais objetivo, sucinto e explicativo).
Como a maioria dos movimentos de ruptura, a repressão foi grande, mas o resultado e as consequências sempre sobressaem os bloqueios enfrentados na época, não é mesmo?
Não sou admirador do movimento em si, ou das músicas produzidas por eles, mas admiro a posição de enfrentar a esquerda radical com muita personalidade e coragem :)
Ah, e perdão por não ter comentado antes sobre o novo design do blog, está sensacional, cara =D
Um abração, e como sempre, obrigado pelos seus comentários no SongSweetSong!!! :)))
http://songsweetsong.blogspot.com/
muito bom...desculpe a pressa do comentario...
voltarei mais vezes akew...
http://vauneiguimaraes.blogspot.com/
Antropofágico por natureza, como nosso Modernismo, como nossa língua, como nosso jeito, o Trôpi começou a arrancar rótulos enjoados e deixar o Brasil ser o que é: uma alegria à prova de grades. A alegria é a prova dos nove!
Foi um movimento fundamental para música brasileira. O tropicalismo deu voz a música. É como se protesto ganha-se uma roupagem melódica e de uma inteligência tão sútil mas ao mesmo tempo tão profunda.
INCRÍVEL. Parabéns!
www.catarseonline.blogspot.com
Tropicalismo foi o movimento onde o brasileiro foi realmente patriota.
Parabéns pelo post, muito bom!
Gui Dutra
o movimento que durou um ano por causa da ditadura militar, e nao se pode esquecer da estetica visual nas artes plasticas, design e literatura.
Faz falta um movimento como este nos dias de hoje. E os problemas não são menores do que na época, o que mudou é a "liberdade" mas a censura cultural da midia tem imperado e a falta de vontade dos músicos, afinal é mais fácil ser hit do verão cantando garota radical
CAETANO É E SEMPRE SERÁ FODÃO!!! ♪♪
Bacana o texto, o movimento é incrivel e fez história, não ouço muito por falta de vontade mesmo e tenho vergonha disso.
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