Retrospectiva Todos os Ouvidos 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Em novembro o blog Todos os Ouvidos completou dois anos. Apesar das postagens terem sido menos frequentes do que no ano anterior, o balaço foi positivo. Ganhamos novos leitores, fomos da música francesa ao tecnobrega, respondendo ao objetivo do blog que é “Todo tipo de música para todo tipo de ouvido”, somos, afinal, ecléticos. No entanto, a escolha dos temas não é mera coincidência, não é feita ao acaso, os temas têm que ser, no mínimo, interessantes, gerar uma discussão bacana e produtiva. Afinal, cada um tem sua preferência musical, mas, ela pode ser colocada em causa. Obrigado a todos que acompanham o blog, aos que leram as postagens, aos que comentaram, ou apenas fizeram uma vista.

 Segue as postagens do ano por ordem de número de comentários e as opiniões mais bacanas, inusitadas e curiosas:

Carla Bruni, "Tu Es Ma Came" (28/06) [48 comentários]
“Na época quando deu essa polêmica com a música, a mídia recortou os trechos falando sobre as drogas afegãs e colombianas, totalmente fora do contexto. Quando se escuta a música inteira, e presta atenção na letra, vê que estes exemplos não fogem da proposta. Problema é que a Carla Bruni, sabendo da posição que ocupa, poderia perfeitamente ter evitado” Mário Sérgio

O Pop gostosinho de Katy Perry (24/04) [48 comentários]
“Concordo com vc, esse pop dela é de muito boa qualidade mesmo diferente de outros, esse tem batidas e letras bem legais e que agradam até quem não curte muito o estilo de musica Parabéns pelo texto” André Ribeiro


“Não consigo gostar de nenhuma dessas cantoras da nova geração, Kate, Lady Gaga, Byonce, Shakira, vixe, muita treta. Fazem a mesma coisa, tudo copiando uma às outras, prefiro escutar Billie Holiday” Paulo Cheng 


O som e o sotaque arretado de Karina Buhr (21/03) [48 comentários]
“Que massa teus textos! E fiquei bem feliz de ler o que você escreveu sobre meu disco e sobre mim. Obrigada! Acho importante demais blogs feito o seu, totalmente independentes e falando opiniões bem pessoais e sem vício jornalístico. Um abraço bem grande!” Karina Buhr 


“[...] Acho interessante que hoje em dia estão começando a valorizar mais aquilo que é produzido "com liberdade", pois as gravadoras estão percebendo que forçar a barra do artista pra ganhar mais dinheiro não está agradando tanto, e essa liberdade que está presente no disco da Karina está vendendo até mais do que a artificialidade muitas vezes imposta por terceiros. Minha única crítica fica ao fato de praticamente todos os créditos ficarem apenas para a Karina. O instrumental da banda é muito interessante, tem grande parte da força que o conjunto do álbum tem” Gabriel Pozzi 


Bicicletas, bolos e outras alegrias - Vanessa da Mata (10/01) [48 comentários]
“Das poucas cantoras da MPB que não estão atoladas nos anos 50. Gosto muito. O nome desse CD é dos mais criativos que vi nos últimos tempos” Pobre Esponja 


O rock underground da banda Ludov (02/05) [47 comentários]
“Fiquei todo animado quando vi que você ia falar dessa banda *--* Meus irmãos ouviam MUITO quando eu era criança, e consequentemente cresci ouvindo esses estilos de música. Infelizmente ou felizmente, cada um seguiu seu rumo, mas continuei escutando tais músicas. A minha predileta é "Princesa" Muito massa mesmo! valeu pelo post nostálgico rsrs” Lucas

O hit da internet – A banda Mais Bonita da Cidade (03/06) [46 comentários]
“Cara, gostei disso não. Pra mim é só mais uma bandinha universitária metida a cult do tipo de Teatro Mágico. Detesto isso. Como ja´disseram: "Banda Mais Bonita nada mais é que Restart pra universitário de classe média alta” Alexandre Silva 


“Nao acredito que foi sem pretenção. Muito espertos eles, usaram a receita da repetição, falaram de amor... simples. Não gostei muito do estilo da música não,e nem da letra que pretende" trazer amor pra galera" como eles falaram, mas o clipe todo em plano sequencia, aparentimente sem cortes eu gostei” Filipe Dias 


“Som muito riponga pro meu gosto, mas a ideia foi bem legal” Fábio Alves

A perda do valor da música gravada (22/07) [45 comentários]
Ótimas opiniões! A postagem que rendeu os melhores comentários. 


O som viciante de Tulipa Ruiz – Efêmera (15/02) [44 comentários]
“[...] Efêmera de fato entrou em todas as listas possíveis, um puta album nacional que, embora eu não tenha ouvido muito (infelizmente me encantei menos do que devia), é uma obra que admiro muito por sua variedade de estilos. tem gente que vê isso como algo negativo, mas eu acho muito bom [...]” Gabriel Pozzi


“Bom, eu sou mais uma que não conhecia. rs Gostei da voz e da música, e tu tem razão quando diz que a voz dela lembra um pouco a gal. Também me fez lembrar a Vanessa da Mata. Não é o tipo de música que eu gosto de escutar diariamente, mas me encanta alegrar os ouvidos com o estilo uma vez ou outra” Cris Prates 


Certa manhã acordei de sonhos intranquilos – Otto (04/04) [43 comentários]
“Otto é um artista interessante, sem dúvida. Muita curiosidade para ouvir a regravação de "Naquela Mesa", sucesso antigo de Nelson Gonçalves (homenagem à Jacob do Bandolim) .. vou procurar ouvir” Mulherices 


“Sabe que eu nunca tinha reparado muito mesmo no som dele? É curioso como tem tantos artistas bons por ai que passam desapercebidos do grande público e acabam não tendo o devido valor. Senti um pouco isso quando fui ao show do Zeca Baleiro. Não é meu estilo e nem sou muito fã mas valeu a pena de um certo modo pois ele manda muito bem. Agora fiquei curioso sobre o OttoMarcus Alencar 


"Não sou mto fã de música brasileira. mas reconheço certos cantores sim.. mas tem outros que nem cantar sabem.. prefiro o estio internacional. hehehe Beziitos.” Thais Souza 


Karina Buhr me dá asas! (19/12) [42 comentários]
“Conheci a musica da Karina pela Mtv ano passado, que sempre passavam clipes e participações dela, mas me impressionei msm foi no rock in rio, mesmo se apresentando no palco sunset, de tarde, ela a cibelle e a Amora, fizeram um show mto bom, com estática maravilhosa super 70tista, passei a adora-la mais desde então...” Fernando (www.titulobaca.blogspot.com)

Ela parece que tá possuída gente huahuahuau gostei até :D” Iza Carrion

O brega virou cult, o sucesso de Gaby Amarantos (31/10) [42 comentários]
“O post tá interessante, mas sinceramente...eu não vejo qualidade nenhuma no tecnobrega. Acho um verdadeiro lixo, assim como o funk brasileiro =P” Juliana (www.jujubalubafacts.blogspot.com)


“Nenhum preconceito, curto montão algumas músicas ditas bregas; rótulo dos outros não é o meu. ‘O amor e o poder’, por exemplo, além de Abba, Magal... tem coisa mais deliciosa? :-) Brega é cara azeda que diz não antes de tentar ser feliz. Tecnobeijos e sucesso!” Fernanda Duarte 


O eletro-pop safadinho de Yelle (07/09) [42 comentários]
“Também gosto de apreciar música de qualidade quando vejo uma. O que eu posso dizer sobre Yelle é que seu estilo colorido de fato lembra muito os grupos dance dos anos 80. Pensei que ela até seria dessa época. Percebo também que sua qualidade musical ultrapassa e muito algumas cantoras americanas que só aparecem pra vender. Achei yelle mais natural e seu clipe mostra realmente essa energia e compromisso com o estilo musical, independente da mídia estar comprando a imagem. Sua música é divertida e agrada pessoas de todos os gostos e idades.” Marcelo Mesquita 


“Não gostei! Funk francês, não obrigada! rsrs...” Débora 


Música infantil inteligente e divertida (16/05) [42 comentários] 
“Otima essa idéia!! uma maneira de fazer chegar no ouvidinho da criança bem cedinho a musica brasileira. Acredito q a música seja um pouco como a leitura, se praticarmos, incentivarmos, se acaba tomando gosto pela coisa. E as musicas da xuxa...aposto q quem gosta mais, atualmente não são nem mais os pequenos, e sim a prole de pais que fizeram parte da geração tindolele.” Cris Prates  


Grande gravadora, pra quê? (28/01) [42 comentários]
Rendeu bons comentários, difícil escolha. 


“Para quem busca por novos artistas, e ainda debate muitas questões do atual mercado fonográfico! acho que os downloads de músicas e tal, prejudicam sim muitas bandas e isso reflete no trabalho que as mesmas tem junto as gravadoras! muitos desses artistas, inclusive, preferiram montar suas próprias gravadoras e serem seu próprios empresários para ter um controle maior e melhor em cima do material musical que estariam produzindo (caso do cantor e músico lobão, que criou o gravadora dele). mas a vantagem de se saber usar esse espaço virtual é mesmo garimpar e saber utilizar o meio como uma fonte de divulgação e propaganda... isso pode mesmo ajudar muitos artistas anônimos e desconhecidos, que querem ter seus trabalhos em destaque! como esse grande músico que vc postou aí no post, muito talentoso mesmo, por sinal.” Marcel Camp 


“Pra quem começa a engatinhar no mercado fonográfico, lançar músicas não é tarefa fácil, mediante uma série de preconceitos existentes e os custos de uma produção. A rede tem dois lados, no meu ver: dificulta para aqueles que tem seus trabalhos lançados, quando oferece downloads de seus discos ou Dvds; em paralelo, facilita a divulgação do trabalho daqueles que não tem condição de arcar com a produção de seu disco ou não conseguem devido espaço nas gravadores. Dois lados de uma mesma moeda...” Barbara Nonato 


Dos conflitos a obra-prima, Fleetwood Mac – Rumours (15/08) [34 comentários]
“Eu já conhecia a banda, mas pouco, por causa do meu pai. Eu ouvia a versão de Go Your Own Way gravada pela banca de hardcore melódico NOFX e nem sabia que era deles, até parar pra prestar atenção em uma música que estava ouvindo” Alex (http://oldschoolgeek13.blogspot.com)


Quem é a rainha? (01/03) [33 comentários] 
“Olá! Não entendo muito desse estilo musical, mas creio que quem curte axé está mais preocupado em "tirar o pé do chão" do que escolher uma cantora favorita para fazer isso...acho que as 3 tem o mesmo espaço...” Talita Cruz


Obrigado a todos, continuem opinando. Feliz Ano Novo! 

Karina Buhr me dá asas!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


Não, ela não mentiu pra mim. O segundo álbum de Karina Buhr, Longe de Onde, é tão interessante e empolgante quanto o primeiro, o elogiadíssimo Eu Menti Pra Você (2010). A cantora passou na prova do segundo disco e trouxe mais uma pitada de energia e emoção a suas composições, sem perder a acidez jamais. A sensação ao ouvir Longe de Onde, lançado em outubro, é de estar em outra dimensão, de fazer parte de uma poesia pós-moderna. A música nos envolve pela intensidade da sonoridade e da letra. Karina Buhr é energia pura! 

As guitarras de Fernando Catatau (Cidadão Instigado), a bateria de Bruno Buarque e a voz enfurecida de Karina transformam-se em um punk-rock agressivo em “Carapalavra”, música que abre o disco. O sarcasmo, também faz presença em “Cadáver”, “se a dúvida é produto da sua escravidão/mantenha então/sua sanidade indefesa do seu estômago”. A cantora canta o suicídio exaltando uma crise existencialista em “Copo de Veneno”, porém sem perder o charme, “me dê um copo de veneno/com duas pedrinhas de gelo, pelo menos/ pra diminuir o gosto amargo”. Mesmo com toda eletricidade e momentos de tensão, medidos por músicas mais densas e de sabor amargo, tem-se momentos de calmaria em “Pra Ser Romântica”, “Sem Fazer Ideia” e “Amor Brando”. Karina também arrebenta ao cantar em inglês The War’s Dancing Floor”, numa pegada bem psicodélica.

Longe de Onde é a continuação do bem sucedido Eu Menti Pra Você, com a diferença de que agora estamos mais familiarizados com o estilo de Karina. Tudo soa mais bacana e menos estranho, mas sem perder a originalidade. Com suas canções, ela nos convida a fazer parte da sua poesia. Lembro da primeira postagem que fiz a seu respeito e sobre seu disco de estreia Eu Menti Pra Você, na qual  relato um pouco do que senti com sua música, disse também que as pessoas poderiam gostar ou não do som, mas nunca ficar indiferentes. Foi interessante saber a opinião das pessoas, houve críticas e comentários super bacanas. A verdade é que Karina Buhr me dá asas. 

Para quem curtiu o som, tem curiosidade de saber mais sobre Karina e baixar seu disco, basta acessar o site www.karinabuhr.com.br



O brega virou cult, o sucesso de Gaby Amarantos

segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Os juízos de valor antecipados impedem as pessoas de terem novas experiências, ampliar horizontes, criar novas expectativas. Na esfera musical o preconceito se manifesta de forma categórica e seletiva, tudo é uma questão de gosto, cada um tem suas preferências. Mas é fundamental verificar e reconhecer as competências inscritas em cada gênero musical. A música de apelo popular e massivo sofre do preconceito, principalmente se o gênero musical em questão se intitula Tecnobrega, uma mistura da música brega tradicional com batidas eletrônicas. Antes de experimentar, conhecer a história ou suas principais referências, os juízos de valor muitas vezes já estão previamente estabelecidos. Essa introdução é para falar de uma cantora e um ritmo genuinamente brasileiro que nasceu no Estado do Pará. Gaby Amarantos, mais conhecida como a Beyoncé do Pará, assumiu de vez a cultura musical de seu Estado, sem medo de rótulos e preconceitos. É o ritmo que vem do Norte que somente agora todo o Brasil tem a oportunidade de conhecer.

Atualmente, Gaby é a artista mais conhecida do tecnobrega e tem ganhado reconhecimento por parte do público e crítica. O mais interessante é que ela circula bem a vontade tanto na cena indie como popular. Com um esquema totalmente independente na produção e difusão de seu trabalho, através da gravação em estúdios caseiros e distribuição de seus CDs nos camelôs e nos carros de som, Gaby conseguiu se firmar na cena musical paraense. Grandes nomes da crítica musical, como Nelson Motta e Hermano Vianna, apontam a cantora e o tecnobrega como o novo marco na música brasileira, uma renovação.

Gaby Amarantos também ganhou destaque internacional ao virar musa do documentarista francês Vicent Moon, que já trabalhou com bandas famosas, como o R.E.M.. Ele foi a Belém gravar um dos shows da cantora. Gaby também fez uma nova versão para a música “Águas de março”, que encantou Nelson Motta, pela originalidade. Hoje, ela se prepara para lançar seu primeiro disco solo, sob a produção de Carlos Eduardo Miranda. Intitulado “Treme”, o álbum trará composições de Thalma de Freitas, Felipe Cordeiro, dona Onete, Alípio Martins, Iara Rennó e da própria Gaby, além de participações de Fernanda Takai e dona Onete. É o ritmo da Amazônia conquistando o Brasil, portanto, viva o multicultural.

Abaixo o clipe da música de lançamento de Gaby Amarantos.
Para ouvir "Águas de Março", clique aqui.

O eletro-pop safadinho de Yelle

quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Foi em um desses passeios pelo YouTube que conheci uma cantora francesa muito interessante e que provavelmente muito de vocês ainda não conhecem, talvez quem tenha familiaridade com a música eletrônica já tenha ouvido, mas não deve ter relacionado a música a pessoa. Trata-se da cantora francesa Julie Budet, ou Yelle, queridinha no mundo fashionista, considerada estrela e nova diva do electro francês.

A cantora lançou seu primeiro álbum em 2007, Pop-up trazendo uma nova atmosfera a música eletrônica, estão no disco "Ce Jeu", "Je Veux Te Voir" e "À Cause des Garçons", esta última seu maior hit. A sonoridade e a performance de Yelle tem influencia do Tecktonic, dança que mistura break e poses de passarela, e que a cantora ajudou a popularizar em seus videoclipes.

O som também carrega influências do rap, pop dos anos 80, e da moda. A presença da bateria é interessante e ajuda a dar corpo a suas canções. Yelle não tem pudores ao falar de posições sexuais, brinquedinhos eróticos, ridicularizar o machismo e falar sobre os pequenos absurdos que as garotas fazem para agradar os homens. Suas letras têm teor feminista, mas sem amarguras, seu eletro-pop é dançante, sensual e divertido. Yelle já tem presença garantida nos set list dos DJs ao redor do mundo e no meu MP3 player também.

Dos conflitos a obra-prima, Fleetwood Mac – Rumours

segunda-feira, 15 de agosto de 2011
A clássica banda inglesa de blues Fleetwood Mac tem uma das trajetórias mais confusas e turbulentas da história da música. A banda sempre foi de altos e baixos. Surgida no final dos anos 60, o grupo teve várias formações, a mais famosa delas foi com Chistine McVie nos vocais e teclados, Mick Fleetwood na bateria, John McVie no baixo, Stevie Nicks nos vocais e Lindsey Buckigham na guitarra. Em meio a relações turbulentas entre os integrantes, fins de relacionamentos amorosos, além dos problemas de bebidas e drogas, em 1977 o Fleetwood Mac lançou seu aclamado décimo primeiro disco, Rumours, tornando a banda conhecida mundialmente.

Na época da gravação o casal John e Christine passava por um tumultuado divórcio, assim como Mick Fleetwood. Buckingham e Nicks, que eram namorados de longa data, também terminaram. O álbum estava sendo gravado em meio a fofocas, rompimentos e desentendimentos. Problemas que são um prato cheio para provocar o fim de grandes bandas. O clima era tão tenso que os integrantes mal se falavam quando estavam fora do estúdio. Mas eles usaram todo esse drama, essa energia negativa como inspiração para fazer ótimas músicas.

Todas as canções de Rumours destacam os conflitos pessoais e, muitas vezes, relacionamentos conturbados. Em “You Make Loving Fun“, Christine McVie fala sobre o namorado, o diretor de iluminação da banda, depois da separação de John. “Dreams” detalha um rompimento amoroso, mas que transmite uma mensagem de esperança, já em “Go Your Own Way”, composta por Buckingham, tem uma visão mais pessimista, trás a angústia de estar perdendo a pessoa que ama, e que, infelizmente, não há mais nada a se fazer, apenas deixar que ela siga o seu caminho. Apesar das inúmeras desavenças, os cinco membros da banda conseguiram trabalhar juntos na composição de uma canção, a irônica “The Chain”, a única na história da banda em que todos compartilham a autoria.

Mesmo com algumas críticas por ter abandonado o blues característico e ter se tornado mais pop (o que, nesse caso, não é um problema), Rumours é realmente um divisor de águas para Fleetwood Mac e um excelente disco. No ano de seu lançamento ficou 31 semanas em primeiro lugar nas paradas de sucesso, consagrou alguns hits, além de ser um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, com mais de 40 milhões de cópias espalhadas pelo mundo. Diante de tantos problemas, o que poderia vir a ser um fisco se transformou em uma obra-prima, e certamente é um álbum obrigatório para quem gosta de música.

* A banda The Cranberries fez um cover bacana de “Go Your Own Way”, e mais recentemente o seriado Glee fez uma homenagem a banda em um dos episódios da segunda temporada.
Clique e ouça “Go Your Own Way”


A perda do valor da música gravada

sexta-feira, 22 de julho de 2011
A popularização da internet e a crescente utilização de recursos digitais viabilizaram novas práticas de produção, difusão e consumo de música. Vivemos atualmente a era dos downloads, a volta dos singles, a perda da autonomia do álbum e a super valorização dos shows, nunca se consumiu tanta música.

Apesar do contexto favorável a artistas, músicos e consumidores, é importante perceber a perda do valor da música gravada. A prática cada vez mais constante de baixar música de graça pelo computador problematiza uma série de questões. Primeiro fere a política dos direitos autorais, o artista e gravadora deixam de ter retorno financeiro e o domínio sobre sua obra. Outra questão envolve a perda de autonomia do álbum em valorização a músicas isoladas, deixando de ser uma obra fonográfica, conceitual, e passa a ser uma mera compilação de sucessos. Antes, o disco assumia uma importante autonomia artística, que hoje, diante da cultura MP3, parece não haver nenhum sentido. Pois ainda que o internauta possa baixar um álbum inteiro pela internet, ele não precisa gravar esse conteúdo no CD, e mesmo que o faça, o valor simbólico desse disco gravado não é o mesmo do antigo disco comprado.

Nenhum artista vive apenas da vendagem de disco, e sabemos disso, sua receita vem principalmente de shows, mas, em alguns casos, chega a ser vulgar a distribuição de material musical por algumas bandas, são distribuídos como panfletos. Assim, a obra musical deixa de ter valor artístico, perde a centralidade, tornando-se uma mera peça de divulgação, com o objetivo de vender ingressos para shows.

Portanto, não se trata apenas da perda de valor financeiro, que deve sim prever algum retorno aos envolvidos na produção da obra musical, claro que a preço justo. E o valor de um produto cultural é relativo e sempre polêmico. Mas a queixa principal reside mesmo na perda do valor artístico e no caráter descartável que a música vem ganhando. Interessante a atitude da banda Radiohead que deixou a critério do público o quanto pagariam pelas músicas do álbum “In Rainbows”. Uma estratégia inteligente e eficaz, eles não sairam perdendo.

Carla Bruni, "Tu Es Ma Came"

terça-feira, 28 de junho de 2011
Sempre achei a cantora e primeira-dama da França, Carla Bruni, um encanto, cheia de charme e de uma voz envolvente. A canção "Quelqu'un M'a Dit" está entre minhas favoritas na categoria de canções românticas. No seu último e polêmico disco "Comme Si de Rien N'Était" ("Como Se Nada Fosse", em tradução livre), grande parte das músicas faz referência a seu romance com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o que na época do lançamento provocou diversas críticas e até boicote por parte de alguns fãs da cantora.

Em “Tu Es Ma Came” Carla Bruni traça um paralelo entre o amor e o vício, “Você é minha droga / Mais mortal que a heroína afegã / Mais perigosa que a branca colombiana”, diz. O que gerou mal estar entre os membros do governo de Sarkozy e políticos colombianos. Apesar do trecho politicamente incorreto, essa canção é uma das mais inspiradas do disco, trata-se de uma declaração de amor usando uma metáfora criativa e incomum, afinal a paixão vira a cabeça de qualquer ser humano. Em “Tu Es Ma Came” a voz suave de Carla Bruni é acompanhada de um violão no melhor estilo Blues. O álbum todo é um desenho romântico bem sucedido, apesar de algumas críticas de pessoas mal amadas, e “Tu Es Ma Came” já entrou na lista de minhas canções românticas preferidas.

Segue um video com a música e sua tradução.

O hit da internet – A banda Mais Bonita da Cidade

sexta-feira, 3 de junho de 2011
O que era pra ser apenas um registro musical com a reunião de alguns amigos, aparentemente sem pretensões, acabou virando febre nas redes sociais, A Banda Mais Bonita da Cidade, grupo curitibano, vem ganhando adeptos e dividindo opiniões. Os comentários na rede vão dos mais elogiosos aos mais pessimistas. A verdade é que, independente das opiniões, a banda ganhou grande repercussão, e alguns críticos de plantão já os apontam como uma promessa na cena indie da musica nacional.

O vídeo que virou hit na internet é da canção “Oração”, tem seis minutos, é filmada em plano-sequência, e o grupo deixa clara uma referência à banda norte-americana Beirut. O que mais chama atenção é a qualidade do vídeo que foi gravado em um casarão, e em menos de uma semana já tinha mais de dois milhões de visualizações, um fenômeno.

Apesar da música ser bobinha, são seis minutos de repetição de uma letra curta, não deixa de ser agradável se ouvida com o vídeo. Percebe-se que são bons músicos, e o clipe carrega uma atmosfera de alegria e simplicidade. A Banda Mais Bonita da Cidade é formada por Uyara Torrente (vocal), Vinícius Nisi (violão, teclado e piano infantil), Rodrigo Lemos (banjolele e guitarra, e ex-integrante do grupo independente), Diego Plaça (violão e baixo) e Luís Bourscheidt (percussão e bateria). Outras músicas do grupo são bem mais interessantes como a “Canção pra não voltar” que é bem bacana.

Enfim, em tempos onde se proliferam tantas besteiras musicais, seria maldade demais fazer uma crítica pessimista ou superestimar uma banda pensando exclusivamente em uma música que estourou na internet, no entanto é o que tem feito alguns. O importante é deixar passar essa aura de novidade e ver no que vai ser daqui pra frente.

Vejam e ouçam “Oração”:

Música infantil inteligente e divertida

segunda-feira, 16 de maio de 2011
Engana-se quem pensa que música feita para crianças tem que ser boba, chata, “infantiloide”. Apesar do apelo ao universo infantil, ela pode ser agradável também para os adultos. Tem uma turma boa fazendo música de qualidade para o público mirim, Adriana Calcanhoto, por exemplo, com os seus Partimpim 1 e 2, mostra sua versatilidade com pinceladas de alegria e delicadeza em canções de grandes compositores da musica popular brasileira como Villa Lobos, Vinicius de Morais e João Gilberto. Essa é uma maneira leve e divertida das crianças serem apresentadas a artistas que são referências na nossa cultura.

Quem também entrou nessa vibe foram os cantores Arnaldo Antunes, Taciana Barros, o guitarrista Edgard Scandurra e o produtor Antonio Pinto que tiveram a idéia de fazer um trabalho conjunto voltado para o público infantil. O disco “Pequeno cidadão” apresenta canções que vão do pop ao rock, do forró a bossa nova, e conta ainda com a participação de seus filhos em algumas faixas. O álbum traz arranjos modernos para canções que falam de chupeta, lagartixa, e tudo mais que povoa o mundo das crianças, sem poupar o som das guitarras e bateria.

Outro trabalho bacana é o CD “Projeto Guri convida”, resultado de uma iniciativa social, o Projeto Guri, que ensina música de graça a 40 mil crianças em 301 cidades paulistas e tem o apoio do governo do Estado. O disco reuni vários artistas, Arnaldo Antunes, Fernando Catatau, Fernanda Takai, Rappin' Hood, Céu, Zélia Duncan, entre outros. Apesar de não ser um trabalho voltado exclusivamente para crianças, não deixa de carregar um brilho infantil nas composições para se fazer música para todas as idades. O “Música de brinquedo” lançado em 2010 pelo Pato Fu chama a atenção da mulecada para canções adultas tocadas com instrumentos de brinquedo.

Enfim, os pais podem respirar, ou melhor, ouvir aliviados boas canções e se divertir junto com seus filhos, sem aquela chatice de ver e ouvir o milésimo “Xuxa só para baixinhos”.


O rock underground da banda Ludov

segunda-feira, 2 de maio de 2011
Ser uma banda independente pode ter seu lado positivo, mas seguir pela cena underground não é nada fácil, principalmente porque muitos talentos ficam ocultos e têm o reconhecimento tardio do grande público. O Ludov é dessas bandas que se ouve falar pouquíssimas vezes, a maioria das pessoas acabam descobrindo por acaso. O trabalho da banda eu já conheço há algum tempo, seus clipes tocavam muito e ganharam alguns prêmios nos velhos e bons tempos da MTV, gostei do estilo deles desde a primeira vez que ouvi.

Recentemente a banda voltou a ganhar destaque por abrir os shows de Roxette em São Paulo. O sentimento nostálgico tomou conta de mim e resolvi falar um pouco deles por aqui. O Ludov lançou seu primeiro disco em 2005 “O Exercício das Pequenas Coisas”, pela Deckdisc. Apesar do sucesso de canções como “Princesa” e “Dois a Rodar”, o segundo álbum, “Disco Paralelo” de 2007, acabou sendo lançado pelo selo independente Mondo 77, e eles voltaram à cena underground. Esse álbum foi considerado por críticos e fãs o momento auge do Ludov, pelas canções maduras e a produção cuidadosa de Chico Neves (o mesmo de Skank, Paralamas do Sucesso, Los Hermanos, O Rappa). Em 2009 a banda lançou seu disco mais recente, “Caligrafia”, pela internet, mostrando mais uma vez que não precisam do suporte de uma grande gravadora para cultivar sua base de fãs e manter-se em evidência, graças à internet.

Além dos sofisticados vocais de Vanessa Krongold, a banda formada por Mauro Motoki (guitarra, voz, teclado e composições), Habacuque Lima (guitarra e composições), Eduardo Filomeno (baixo) e Vlad Rocha (bateria) executa muito bem suas funções. Para quem gosta de rock alternativo, para quem se cansou da mesmice, o Ludov é uma boa pedida. Das minhas canções favoritas estão “Estrelas”, "Princesa", “Kriptonita”, “Reprise”, e “Dois a rodar”. Podem ter certeza que o Ludov faz um rock tupiniquim de excelente qualidade, só lhes faltam mais oportunidade.



clique aqui para ouvir mais músicas do Ludov.

O Pop gostosinho de Katy Perry

domingo, 24 de abril de 2011
Ela estourou com a música “I kissed a girl”, se destacou entre as diversas cantoras pop e emplacou um sucesso atrás do outro. Katy Perry, até seu nome soa como um chicletinho, repete a formula da canção hit e a explora até as últimas conseqüências em Teenager Dream, 2010. Como o próprio título do disco sugere, as músicas giram em torno da juventude americana, na qual os sonhos adolescentes estão recheados de todos os clichês possíveis, garotas de biquíni, desilusões amorosas, carros, festas, bebedeiras... Ingredientes certos para tornar Teenager Dream uma máquina de hits.

As músicas grudam, fazem você se jogar nas pistas, e mesmo sendo chiclete parecem não perder o sabor. O grande mérito é da própria Katy que tem uma voz agradável, consegue ser sexy sem muito esforço, sem sussurros insuportáveis que possam esconder seu voz ou exagero visual que possa ter mais destaque que sua música. Em Teenager Dream, a cantora exibe toda a potência vocal e também seu talento para criar refrões grudentos, destaque para a música que abre e dá nome ao disco, e também a dançante “California Gurls”, "Firework", a divertida “Peacock”, a misteriosa “E.T”, até a menos empolgante do disco "Not Like the Movies", consegue ser interessante.

Katy Perry encarna o melhor do pop atual e consegue mesclar com competência o moderno e o retrô em sua performance. Das cantoras pop que estão em evidencia é talvez a única que apresenta uma música divertida, bem humorada, gostosinha, tudo na medida certa.

Certa manhã acordei de sonhos intranquilos - Otto

segunda-feira, 4 de abril de 2011
Tem certos artistas que nós costumamos dar atenção tarde demais, mas antes tarde do que nunca. Semanas atrás fui ao show do cantor pernambucano Otto, e me surpreendi com a qualidade da música, da banda, e da sua performance. Já tinha ouvido algumas músicas em trilhas de novela, ou através de amigos que curtem o som e seu estilo, mas nunca tinha prestado atenção, até que um dia baixei o seu disco mais recente, Certa manhã acordei de sonhos intranquilos, e adorei.

O título do disco foi extraído da obra "Metamorfose", de Franz Kafka, e explica o inferno astral que o cantor vivia naquele momento, tinha se separado da mulher, perdeu a mãe e afilhada, e ainda estava sem gravadora. Mas, foi no fundo do poço que ele conseguiu gravar o álbum que é considerado por muitos o melhor de sua carreira. O disco foi lançado no final de 2009, traz uma sonoridade mais orgânica e menos eletrônica que os anteriores, a melodia se mistura aos ritmos regionais brasileiros com letras cheias de melancolia, em que o artista canta suas dores, saudades e inquietações.

O álbum reúne 10 faixas, sendo que oito são assinadas por Otto e duas são regravações, "Lágrimas Negras", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina (com participação da mexicana Julieta Venegas, que também canta "Saudade", já comentei sobre essa excelente cantora aqui no blog) e o samba-canção "Naquela Mesa", de Sérgio Bittencourt. Destaque também para as canções “Crua”, a roqueira “6 minutos”, a experimental "O Leite" ("Quando eu saí da tua vida / Bati a porta / Saí morrendo de medo / Do desejo do desejo de ficar"), essa com participação de Céu, e a regional "Janaína", uma homenagem à Iemanjá, ("Disse um velho orixá / Pra oxalá, pra acreditar / Pra não temer, temer, temer / Desses tempos verdadeiros / Tempos maus").

Enfim, apesar do disco escorrer por linhas e formas de caos, como o próprio Otto escreveu no encarte, podemos desfrutar de uma obra-prima da música brasileira, cheia de beleza e bom gosto. Afinal, podem nascer flores mesmo num canto de um quarto escuro.

Clique aqui e ouça "Crua".

O som e o sotaque arretado de Karina Buhr

segunda-feira, 21 de março de 2011
Quem curte música alternativa e de muita originalidade tem que conhecer o som de Karina Buhr. Baiana de nascença, mas pernambucana de alma e coração, Karina, integrante do Comadre Fulozinha, lançou seu primeiro disco solo no ano passado, conquistando a crítica e um público ávidos por novidades que fugissem do marasmo e previsibilidade da Música Popular Brasileira. O disco de estreia Eu menti pra você, não escapou das listas de melhores álbuns lançados em 2010.

Com uma voz meiga, mas língua afiada, Karina canta sobre diversos temas que vai do amor a guerra, com um discurso livre e original. Destaque para “Mira ira”, e os registros bélicos “Nassíria/ Najaf” e “Soldat”. A diversidade sonora e o colorido que emolduram suas canções escapam de uma definição de gênero e estilo, resultado da própria diversidade cultural em que viveu cercada. O sotaque carregado transmite ainda mais personalidade a sua música. Tudo é muito bem orquestrado do começo ao fim por Bruno Buarque (bateria e MPC), Mau (baixo), Guizado (trompete), Dustan Gallas (teclados e piano), Otávio Ortega (teclados e bases eletrônicas), Marcelo Jeneci (acordeon e piano), Edgard Scandurra e Catatau (guitarras).

Para quem respirou os ares de Chico Science e Nação Zumbi, do maracatu e da música de raiz, Karina Buhr não decepciona, certamente desponta no cenário musical como uma artista talentosa, moderna, multicultural, que dispensa rótulos e nos retira do estado de inércia, alguma coisa o ouvinte irá sentir, mesmo que seja estranheza, só não irá ficar indiferente. Apesar de desconhecida pelo grande público, Karina é sucesso na cena indie, e consegue dar seu recado em “Ciranda do incentivo”, uma crítica as leis de incentivo a cultura, “Eu preciso entrar no gráfico, no mercado fonográfico”.

Clique aqui e ouça "Eu menti pra você"

Para quem quiser baixar o disco clique aqui. A própria Karina deixou nos comentários do blog.

Quem é a rainha?

terça-feira, 1 de março de 2011
Quem pensa que só no mundo das divas da música pop é que existem disputas por mais visibilidade, engana-se. No mundo da Axé Music também. O carnaval vai começar, e Salvador é o palco ideal para mostrar quem é a musa, diva, a rainha do Axé. Alguns dizem que o posto de rainha do Axé continua sendo de Daniela Mercury, mas seu reinado vem sendo há muito tempo ameaçado por Ivete Sangalo, aquela que arrasta multidões, e pra esquentar ainda mais a briga tem Cláudia Leitte, cuja música é mais pop que Axé. Quem vê aquela falsa cordialidade em cima do trio elétrico, nem imagina o quanto elas pelejam para ser o destaque principal da festa, o melhor bloco, a melhor cantora, a melhor música, quem tem o melhor camarote, etc, etc, etc.

Ivete é elétrica, carismática, divertida, e é hoje a artista brasileira que mais vende discos, sendo que seus últimos DVDs ao vivo bateram recorde de vendas. Cláudia é performática, cheia de “invenções” malucas, já Daniela é mais, digamos, cultural, que busca ir além do só pular e cantar em cima do trio, ela tem um repertório mais elaborado, é pra se ver e ouvir. Nada contra nenhuma das três, mas é fato que todas procuram se destacar na frente dos holofotes e querem ocupar o posto de rainhas. Acho até que Daniela Mercury andou fazendo algumas concessões para não perder a notoriedade, visto que não goza mais da mesma popularidade de antes, e seus trabalhos atuais não são tão bons e interessantes quanto os primeiros de sua carreira, era outra visão da Axé Music (velhos tempos), mesmo assim, ela consegue oferecer um repertório que vai muito além do “tira o pé do chão”.

Enfim, caros leitores, a Axé Music é um produto do carnaval, sempre foi, está cada vez mais descartável, passou a festa perdeu a graça, reinventa-se outra música para o próximo ano. Então, aproveite e tire o pé do chão.


Bom carnaval a todos. Divirtam-se!



Clipe "Nobre Vagabundo" do ótimo disco Feijão com Arroz, Daniela Mercury.

O som viciante de Tulipa Ruiz – Efêmera

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Nunca um disco ou artista me conquistou com tanta facilidade. Efêmera, disco de estreia da cantora paulista Tulipa Ruiz, figurou entre os melhores lançamentos nacionais de 2010, em diversos sites e revistas especializadas. De fato, não deixa de ser surpreendente, mesmo porque em discos de estreia sempre fica faltando algum detalhe ou algo que não se encaixou muito bem, frustrando algumas expectativas, mas esse não é o caso de Efêmera, delicioso e perfeito da primeira a última música. A maioria das canções são composições da própria Tulipa, além disso, ela também trabalha com ilustração e assina o trabalho gráfico do disco. A voz lembra um pouco Gal Costa e as letras são leves, divertidas e comoventes, daquele tipo que ocupa sua mente sem pedir licença e ser chata.

Efêmera tem uma sonoridade que remete a Tropicália, mas vai muito além, os arranjos são bem minimalistas, aparentemente simples, mas extremamente sofisticados e harmonioso. O disco traz boas participações como Céu e Thalma de Freitas, bem sutis, mas que dão um tempero a mais no disco. A música que abre e dá nome ao álbum tem um ritmo bem envolvente, como um musical havaiano, e é a porta de entrada para o mundo de Tulipa. O momento mais calmo fica por conta da canção “Do amor” e a mais divertida “Pontual” brinca com a falta de pontualidade de alguém que perde a sessão de cinema, mas jura ser pontual numa próxima vez. “Brocal dourado” nos envolve num clima psicodélico e hipnotizante, já “As vezes” nos remete aos anos 80, e é, talvez, a mais pop do disco juntamente com “A ordem das arvores” , que eu simplesmente adoro, tem uma levada meio funk, cheia de grooves, é o momento certo para se soltar.

A música que encerra o disco “Só sei dançar com você” conta com a participação especial de Zé Pi(Druques), e fecha em clima de romance "Só sei dançar com você e isso é o que o amor faz...". Enfim, a variedade de estilos não prejudica a unidade do disco, pelo contrário, nos remete a uma série de boas sensações, é um verdadeiro remédio anti-monotonia.

Clique e ouça "A ordem das árvores":

Grande gravadora, pra quê?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Foi-se o tempo em que as grandes gravadoras, as chamadas majors, dominavam o comércio musical, hoje com o desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação e com a facilidade de acesso a elas, nenhum artista precisa sucumbir às regras mercadológicas de uma gravadora. A não ser aqueles que ainda tem bom retorno na venda de CDs e DVDs, ou que preferem deixar a cargo dos profissionais da gravadora todo o trabalho de divulgação, marketing, agenda, enfim, todas as etapas de produção e agenciamento.

Antigamente os músicos da cena alternativa tinham como objetivo fazer parte do elenco de uma grande gravadora, era importante para se ter acesso midiático, bons produtores, e consequentemente conquistarem público. Essa passagem foi muito importante para muito deles se consagrarem no mercado nacional. Hoje o caminho é inverso, muitos artistas foram dispensados de sua gravadora e retornaram ao cenário independente, mas claro que com uma bagagem muito maior, é o caso do Pato Fu (ex SONY/BMG), por exemplo, mesmo não tendo a mesma exposição de antes, continuam evoluindo musicalmente, e ganhando notas na mídia. Há artistas independentes que aproveitam as novas tecnologias, como a internet, por exemplo, através do MySpace, LastFM, Youtube, e demais sites de relacionamento para divulgar seus trabalhos e lançar seu material físico por meio de selos e distribuidoras alternativas, a Tratore é uma delas, ou disponibilizando suas músicas para download em sites como da gravadora Trama.

As gravadoras independentes têm uma função satélite ou complementar no mercado fonográfico, cumprem o papel de descobrir e desenvolver novos talentos que podem ser assumidos posteriormente com menos risco pelas majors. Além disso, a produção independente acompanha com mais agilidade as constantes mudanças do mercado fonográfico. Enfim, as grandes gravadoras não podem mais ser vistas como a única via de acesso ao mercado musical. É possível garimpar um monte de artistas independentes bacanas na internet, não é uma tarefa fácil, devido a grande quantidade de informação, mas procurando a gente acha. Lucas Santtana, por exemplo, é um super músico e tem trabalhos interessantes. Tem também, Karina Buhr, Tulipa Ruiz (que descobri recentemente), tem Ludov, Trash Pour 4, entre outros.

Dê um play no video abaixo:

Bicicletas, bolos e outras alegrias - Vanessa da Mata

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Primeira postagem do ano, já estava com saudades desse cantinho. Vou iniciar falando do novo disco de Vanessa da Mata - Bicicletas, bolos e outras alegrias, que foi lançado em novembro do ano passado. Esse novo trabalho apresenta uma cantora muito mais intimista, delicada e as canções carregam uma variedade sonora bacana sem perder a unidade. O quarto álbum da carreira de Vanessa foi lançado por seu próprio selo, Jabuticaba, em parceria com a Sony Music e patrocinada pela Natura. O disco foi produzido por Kassin, que já trabalhou com Los Hermanos e Caetano Veloso, tendo só canções inéditas, incluindo participação de Gilberto Gil na faixa Quando amanhecer.

Sem dúvida esse novo álbum vem inspirado, esbanjando delicadeza e romantismo, há também crítica bem humorada em algumas canções como em Fiu fiu, que faz uma abordagem sobre a luta das mulheres contra a balança, para agradar amigas e inimigas, e em Bolsa de grife, uma crítica a sociedade exageradamente consumista dos tempos atuais, emoldurada sobre um arranjo que lembra bem Os Mutantes. O lado pop se vê logo na abertura do disco em O tal casal, hit radiofônico, um chicletinho agradável, mostrando que Vanessa sabe fazer música de apelo massivo de alto nível e bom gosto. A cantora exala romantismo em Te amo soando quase cafona brincando com os clichês da paixão, as faixas Meu aniversário e Bicicletas, bolos e outras alegrias (que dá nome ao disco) é uma farra só, uma celebração as coisas simples e belas da vida. Destaque também para a belíssima, As palavras, a melhor do disco.

Enfim, Bicicletas, bolos e outras alegrias confirma o talento de Vanessa da Mata com seu ecletismo, sem fazer mal a crítica e ao público. A variedade de ritmos, arranjos simples outros sofisticados, juntamente com sua talentosa banda conseguem traduzir bem as melodias e o sentimento contido nas canções. Romantismo (O Tal Casal, Te Amo), critica o consumismo e as aparências (Bolsa de Grife, Fiu fiu) e a celebração a alegria (Meu aniversário), ditam a personalidade do disco e mostra uma cantora bem resolvida com seu estilo. Um bom lançamento do ano que passou.

Aperte o play e ouça "fiu fiu":