A Bossa Nova de Fernanda Takai e Andy Summers

sexta-feira, 9 de novembro de 2012
O lançamento de Fundamental, novo disco solo da cantora Fernanda Takai (Pato Fu) em parceria com Andy Summers (Ex The Police), foi cercado de muita expectativa. O convite para fazer parte do projeto partiu do próprio Summers que, segundo ele, havia composto todas as músicas pensando na voz doce e objetiva de Takai. É claro que o convite foi prontamente aceito. Foram enviadas 18 músicas, nas quais 11 foram escolhidas pela cantora para fazer parte do álbum. Algumas ganharam versões em português feitas por John Ulhoa, Zélia Duncan e da própria Takai, sozinhos ou em parceria. O CD traz uma Bossa Nova com pegada pop e foi lançado também na Europa e Japão. No entanto, “Fundamental” é pouco sedutor.

Para quem acompanhou a estreia da cantora do Pato Fu na carreira solo com o elogiadíssimo “Onde Brilhem os Olhos Seus” (2007), ou mesmo sua trajetória na banda, poderá sentir certa estranheza nesse segundo trabalho. Pois mesmo tendo apresentado uma releitura de sucessos consagrados na voz de Nara Leão, aquele disco conseguia trazer um frescor e dar um ar de novidade as canções. Versões criativas e ousadas, mas sem perder a ternura. Agora, longe dos arrojos artísticos de seu marido John, “Fundamental” ganha uma identidade sóbria demais, algumas vezes burocrática e cansativa. A voz de Fernanda está ótima como sempre, segue a sofisticação dos arranjos de Summers, mas há poucos momentos de ousadia, diria até de liberdade.

Mas o problema está exatamente em estar acostumado com Fernanda no Pato Fu ou sob a supervisão de John. Ao esquecer isso, o disco soa gostosinho até pra quem não está habituado a Bossa Nova. A faixa que dá título ao CD é altamente agradável de ouvir. Algumas canções rompem momentos de marasmo como “No mesmo lugar (Here i am again)”, “You Ligth my dark”, “Smile and blue sky me” e a excelente “Human kind”. No mais, “Fundamental” é um disco que prima pelo sofisticado arranjo instrumental, que traz o percussionista Marcos Suzano transmitindo mais brasilidade as canções, e baixista mexicano Abraham Laboriel.

Apesar do estranhamento inicial, eu que sou fã da Fernanda, me acostumei com a sonoridade do disco. Hoje, ele é fundamental na minha lista de álbuns favoritos.



O fervor criativo da Tropicália

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Em uma antiga postagem, que está entre as mais vistas do blog, eu falava da importância da Tropicália, um movimento cultural que transformou a MPB e causou muito barulho no final da década de 60. Hoje, todos reconhecem a importância da Tropicália na música e cultura nacional, mas, na época, as vaias e a rejeição eram quase unânimes. O Brasil vivia assim dois tipos de ditadura, a militar e a da MPB conservadora, que defendia a música brasileira sem qualquer intervenção ou influência estrangeira. O movimento criado por Caetano Veloso e Gilberto Gil é o produto do documentário – Tropicália, que está em cartaz em todo Brasil.

O movimento durou menos de dois anos, mas foi o suficiente para se consagrar como a última vanguarda musical. O documentário traz imagens raras e tem uma produção muito caprichada. O filme, num primeiro momento, volta no tempo para traçar o perfil dos seus personagens principais, mas focando o período entre 1967 e 1969, no qual o movimento aconteceu de fato. Depois avança até o início dos anos 1970 para mostrar o período de exílio de Caetano e Gil na Inglaterra.

O filme retrata vários momentos marcantes, entre eles a apresentação de Caetano e Gil no III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1967, que foi o marco inicial do movimento. Mostra ainda, o arrepiante episódio em que Caetano é vaiado ao cantar “É Proibido Proibir”, no III Festival Internacional da Canção, 1968, e o seu discurso inflamado: “Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos”. Enfim, o documentário traz registros pouco conhecidos, inclusive para os tropicalistas, como, por exemplo, a apresentação de Caetano, Gil e mais alguns amigos no Festival da Ilha de Wight, em 1970. Há depoimentos e presença de outros personagens, entre eles, Tom Zé, Nara Leão, Gal Costa, Torquato Neto, a turma dos Mutantes. Várias cenas arrepiam a gente pela efervescência criativa que foi o movimento.

Vale muito a pena ir ao cinema para assistir ao documentário Tropicália e conferir um dos momentos mais criativos e inteligentes da música brasileira.


Um tudo e um tanto de bom

quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Depois do grande sucesso de Efêmera (2010), que figurou entre os melhores discos daquele ano em várias listas especializadas, Tulipa Ruiz retorna ainda mais ousada e com um som ainda mais contagiante que no trabalho anterior. Tudo Tanto foi lançado recentemente, inclusive pode ser baixado gratuitamente no site da cantora. O repertório traz 11 faixas e incluem algumas participações especiais. O cantor Lulu Santos toca guitarra e divide os vocais com Tulipa em "Dois Cafés", música que fala sobre as aflições cotidianas dos novos tempos. Um pop leve e radiofônico. Vale mencionar também a partição do rapper Criolo na faixa “Víbora”, uma das melhores do disco, na qual a cantora explora sua voz de forma intensa, crua, visceral, destilando toda acidez que a letra propõe. “Metade homem, metade omisso/ Uma parte morta, outra parte lixo”.

Tudo Tanto mostra uma Tulipa renovada, bem mais a vontade e desafiadora. Ela não se acomodou com o sucesso do primeiro disco. Nesse novo trabalho os temas são mais genéricos, universais, ao contrário do disco anterior onde o assunto principal eram histórias do cotidiano, situações mais específicas, leia-se as músicas “Pontual”, “As vezes”, “Da menina”, “Sushi”. A canção “Desinibida”, de Tudo Tanto, conta a história de uma menina solteira, extrovertida, bem resolvida e livre, lembrando um pouco a história de “Pedrinho” do álbum Efêmera, um rapaz também confiante, daqueles que fala o que pensa e sempre te surpreende.

Antes do lançamento oficial, foram divulgadas as músicas “É”, confirmando a pegada pop e potencial radiofônico da canção, além de “Dois Cafés” e “Ok”, essa última a mais ensolarada do disco. Apesar das três faixas serem facilmente comerciáveis, o que poderia gerar um certo receio e preconceito de nossa parte, o disco, de maneira geral, é bem organizado, cumpre e supera as expectativas em torno de um segundo disco. Confirmo aqui o que já tinha dito na primeira postagem sobre Tulipa, seu som é mesmo viciante.

Veja o clipe de "É". Lindo! Vale a pena conferir.

Alegria, alegria! Caetano Veloso faz 70 anos

quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Terça-feira (07), um dos músicos mais importantes da história da música brasileira - Caetano Veloso - completou 70 anos. Mesmo não querendo fazer da data um evento, o dia foi marcado por várias homenagens, por parte dos fãs, nas redes sociais e, além disso, o cantor ganhou um disco tributo. O álbum intitulado "A Tribute to Caetano Veloso", que já começou a ser distribuído pela gravadora Universal, é uma verdadeira homenagem ao artista. Músicos nacionais e internacionais se revezam na interpretação das suas canções mais importantes. Entre os convidados estão o uruguaio Jorge Drexler "Fora da Ordem", o espanhol Miguel Poveda "Força Estranha", a cantora portuguesa Ana Moura "Janelas Abertas nº 2", o americano Beck "Michelangelo Antonioni", a banda londrina The Magic Numbers "You don"t know Me" e Chrissie Hynde "The Empty Boat". Marcelo Camelo, interpreta "É de Manhã", Seu Jorge, com "Peter Gast", Os Mutantes, com "London, London", e Mariana Aydar, com "Araçá Azul".

Nascido no dia 7 de agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, Caetano Veloso foi um dos idealizadores do Tropicalismo que provocou mudanças profundas na estrutura da música brasileira. E como todo movimento de vanguarda recebeu críticas, não sendo bem recebido pelos conservadores de plantão. Estrelou também o show dos Doces Bárbaros em parceria com Gilberto Gil, Maria Betânia e Gal Costa, o disco homônimo de 1976 é considerado um dos melhores trabalhos da música nacional de todos os tempos. Durante a ditadura ele foi acusado de subversão, foi obrigado a se exilar em Londres, mas não deixou de compor. Ainda no exílio lançou “Transa” (1972), um dos seus discos mais cultuados. Recentemente, ele assinou todas as faixas do novo disco de Gal Costa, “Recanto”, além de produzir o show. E promete, ainda para esse ano, um novo disco de inéditas com a banda Cê. O aniversariente é Caetano, mas quem recebe o presente somos nós, os fãs.

Ouça Eclipse Oculto na voz de Céu :

Um ano sem Amy Winehouse

quarta-feira, 25 de julho de 2012
Há um ano o mundo da música pop perdia uma das suas maiores Divas deixando seus admiradores num estado de ressaca profundo. Em 23 de julho de 2011, Amy Winehouse foi encontrada morta em sua residência em Londres aos 27 anos. Segundo o laudo dos legistas, a causa da morte foi excesso de álcool, não sendo encontrado nenhum vestígio de droga. A imagem de uma cantora de voz encorpada, visual estiloso, protagonista de escândalos, figurinha carimbada dos tablóides sensacionalistas, jamais sairá do imaginário dos fãs.

Amy Winehouse viveu intensamente seus 27 anos. Estourou com os aclamados álbuns “Frank” e “Back to Black”, este último é o segundo disco mais vendido do século 21, perdendo apenas para “21” de Adele. Mesmo após sua morte, Amy ainda é sinônimo de lucro e uma das celebridades mortas mais rentáveis. O álbum póstumo “Lioness: Hidden Treasures”, que tem uma versão de “Garota de Ipanema”, figurou, na semana de lançamento, no topo das paradas britânicas. Além disso, teria vendido mais de 2 milhões de discos, aumentando em 10% o número total de álbuns vendidos em sua carreira.

Depois da morte de Amy, seu pai, Mitch Winehouse, se dedicou a criação de uma fundação que leva o nome da cantora. No dia 14 de setembro, quando a cantora faria 28 anos, a instituição foi lançada com o objetivo de angariar fundos para caridades que apoiem jovens com necessidades especiais, problemas financeiros e viciados em drogas. Seu pai também lançou recentemente a biografia da cantora, “Amy, Minha Filha” (Editora Record), prevista para ser lançada no Brasil em 3 de agosto.

Amy Winehouse poderia ter deixado um legado musical bem maior, bem mais significativo, se não fosse vencida pelas drogas e álcool. Ela experimentou o sucesso e decadência. Mesmo assim, se tornou eterna, inesquecível.

Alanis vem aí!

segunda-feira, 16 de julho de 2012
Depois de um longo tempo sem apresentar novidades musicais, a cantora canadense Alanis Morissette prepara o lançamento de seu oitavo disco, "Havoc and Bright Lights", que estará disponível nas lojas no dia 27 de agosto. Seu último trabalho é "Flavors of Entanglemente", lançado em 2008.

O disco foi gravado em Los Angeles e teve a colaboração de produtores famosos, Guy Sigsworth, que trabalhou com Madonna, Seal e Björk, e Joe Chiccarelli, com U2 e Elton John. Para atiçar os fãs, foi dada uma amostra do que vem por aí, a música de trabalho “Guardian” já está disponível (e pode ser ouvida no final do post).

Para aumentar ainda mais a expectativa, foi anunciada uma série de shows pelo Brasil. As apresentações acontecem nos dias 2 e 3 de setembro em São Paulo (Credicard Hall); dia 5, em Curitiba (Master Hall); dia 7, no Rio de Janeiro (Citibank Hall); dia 9, em Belo Horizonte (Chevrolet Hall); dia 12, em Recife (Chevrolet Hall); dia 14, em Belém (Cidade da Folia); e dia 16, em Goiânia (Goiânia Arena).

Quem viveu bons momentos ao som de Alanis nos anos 90 não vê a hora desse disco chegar as prateleiras e conferir sua performance ao vivo nos palcos brasileiros. Vou adorar relembrar a adolescência, época em que jovens de 14-15 anos ouviam um bom som de rock. Hoje, tá raro.

A farsa de Lana Del Rey

quinta-feira, 28 de junho de 2012
Ela surgiu como fenômeno da internet. Voz fascinante, visual cool, música em tom nostálgico e melancólico. Muito alvoroço e expectativa se formaram em torno de Lana Del Rey. Os singles “Video Games” e “Blue Jeans” viraram hits e a cantora cresceu durante todo ano de 2011. Seria a nova promessa da música pop? Talvez. Mas, após o lançamento do seu primeiro disco, Born To Die, a sensação que ficou é de farsa. Cadê aquela Lana que seduziu os internautas e ouvintes com suas performances cult de clima noir?  O álbum é previsível e cansativo. São 16 faixas, entre oficiais e bônus.

Apesar do conjunto da obra não agradar tanto, existem músicas muito boas. Aquelas já conhecidas do público, “Born to Die”, “Blue Jeans” e “Video Games”. Além de “Million Dollar Man” e “Diet Mtn Dew” que se destacam em meio a mesmice. O que incomoda é que o disco parece não ter unidade. Há muitos malabarismos vocais e recursos sonoros totalmente desnecessários.

O que se pode concluir é que a indústria fonográfica forjou um ícone e tentou explorá-lo ao máximo. Primeiro usando a internet, depois produzindo um disco fraco, exaustivo, sem graça e as pressas para aproveitar a repercussão da cantora na mídia. Mas a prova dos nove deve vir com um segundo CD. Isso se ainda houver fôlego e paciência pra mais um registro.


Gaby Amarantos bota pra tremer

terça-feira, 29 de maio de 2012
Para ouvir o disco de estreia de Gaby Amarantos é preciso esquecer os preconceitos e trancar a caretice no armário, até porque, de cara, já podemos julgá-lo pela capa. O cenário lembra uma floresta rodeada de caixas de som, no meio dela a cantora posa soltando raios laiser dos peitos e domando uma pantera negra. É muita exuberância. A capa de Treme (Som Livre) já dá uma amostra da experiência musical que está por vir.
Numa postagem anterior eu havia comentado o sucesso de Gaby Amarantos na cena musical contemporânea brasileira e de como o brega tem virado cult. Pois bem, o super aguardado disco Treme acaba de chegar às lojas e tem sido bem recebido pela crítica e público. O grande mérito de Gaby é a facilidade que tem em circular entre o mainstream e o underground, entre a galera tradicional e a mais descolada. Ela consegue abranger todas as parcelas do público. O álbum é um verdadeiro liquidificador sonoro e ultrapassa as fronteiras do Pará (Estado de origem da musa e do Tecnobrega). Ali estão o tecnopop, o brega, o merengue, a lambada, o carimbó e demais ritmos do Norte do país. A produção artística ficou a cargo de Carlos Eduardo Miranda, que já realizou trabalho do Raimundos e Mundo Livre S/A.

Gaby emplacou a música “Ex my love” na abertura da novela das sete, Cheias de Charme, da Rede Globo. Antes, virou hit na internet comXirley”, uma canção meio autobiográfica que está entre as melhores do disco. Dentro da proposta mestiça do CD, a participação da cantora Fernanda Takai (Pato Fu) na faixa “Pimenta com Sal” é uma surpresa, já que as duas cantoras têm estilos bem diferentes, mas a química deu certo. Também tem a participação de Dona Onete em “Mestiça”, a mais quietinha do disco, e da banda de tecnobrega Gang do Eletro em “Galera da laje”. O álbum conta ainda com a colaboração de Thalma de Freitas e Iara Rennó em “Chuva”, Felipe Cordeiro em “Ela está no ar”, e a própria Gaby atacando como compositora em “Faz o T”, “Eira” e “Gemendo”. Vale destacar a versão tecno da canção de Zezé de Camargo e Luciano, “Coração está em pedaços”, o que demonstra o apelo popular do disco.
Depois de Treme, esqueçam o rótulo de “Beyoncé do Pará”. Gaby Amarantos é uma figura original e não tem medo de ser chamada de brega. Só mesmo o seu carisma e ecletismo para romper a barreira entre o cafona e o chique.

Aperte o play e ouça Pimenta com Sal

O Início, o Fim e o Meio - Raul Seixas

segunda-feira, 30 de abril de 2012
Semanas atrás assisti ao documentário Raul – O Início, o Fim e o Meio, sobre a vida e carreira do eterno maluco beleza. Foi curioso ver uma plateia tão diversificada, a começar pela faixa etária. Tinha um rapazinho que aparentava ter uns 16 anos sentado na poltrona a minha frente e super entusiasmado. O mais interessante é que ele foi assistir ao filme sozinho. No mínimo, uma situação curiosa, adolescente interessado nesse tipo de música, nesse tipo de gênero cinematográfico e ainda por cima não estava em bando, fiquei impressionado. Isso nos permite perceber como um artista e sua obra podem ser imortais, como pode influenciar gerações.

O documentário, dirigido por Walter Carvalho, tenta acompanhar a vida de Raul do início ao fim reunindo diversos depoimentos de pessoas que fizeram parte da sua vida  O filme começa mostrando a infância do artista na Bahia e sua decisão em ser cantor de rock and roll. Pegava emprestado de amigos do consulado americano em Salvador discos de Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richards, ouvia o melhor do rock e Blues americano da década de 50 e 60. Aos 12 anos fundou o conjunto The Panthers (mais tarde Os Panteras), primeiro grupo de rock de Salvador a usar instrumentos elétricos. O filme mostra ainda sua trajetória até ganhar projeção nacional, que teve início com sua apresentação no festival internacional da canção em 1975 cantando “Let me Sing”, seu primeiro hit. Estão presentes no filme depoimentos da mãe do artista, dos amigos de infância, das ex-esposas, de Renato e seus Blue Caps, Tarik de Souza, Nelson Mota, Caetano Veloso, Roberto Menescal, Tom Zé, Pedro Bial, Marcelo Nova, e dos seus parceiros musicais, Claúdio Roberto e Paulo Coelho, este último responsável pela composição de boa parte do repertório dos discos fundamentais da carreira de Raul,  e revela, sem pudores, ter sido responsável por apresentar  as drogas mais pesadas ao cantor.

O material do filme é grande e bem diversificado, mostra os altos e baixos da carreira de Raul Seixas, a relação com as drogas, com o álcool, com as mulheres. O documentário alterna momentos de emoção (depoimento das companheiras, amigos e fãs, além de imagens de shows), diversão (presente em recortes de algumas entrevistas concedidas pelo artista ao longo de sua carreira), e certo constrangimento (como na fala de sua primeira filha que mora nos Estados Unidos e limitou-se a mandar uma mensagem via Skype relatando os motivos em não querer participar do documentário). O filme faz jus ao mito Raul Seixas. Um arrepio e certo nó na garganta é o sentimento que nos acompanha ao longo da película. E a prova viva de que Raul ainda exerce poder e influência no coração das pessoas foi constatada na empolgação do rapazinho de 16 anos, que assistia atento as imagens na tela e cantarolava algumas canções do ídolo. Então, Toca Raul!

Para matar as saudades, The Cranberries - Roses

quarta-feira, 18 de abril de 2012
Após um hiato de 11 anos sem lançar algo inédito, a banda irlandesa The Cranberries volta com o álbum Roses para matar a saudade dos fãs. Sucesso nos anos 90, a banda, comandada pela vocalista Dolores O’Riordan, ficou conhecida mundialmente pelos seus hits, o maior deles “Linger”, do primeiro disco, Everybody Else Is Doing It, So Why Can’t We?, não pode faltar em nenhum show. "Zombie”, “Go your own way”, “ Ode to my family” e “Just my imagination” também são algumas das músicas inesquecíveis do quarteto. Não há novidade, nem ousadia em Roses , é tudo muito convencional, mas nem por isso menos interessante e gostoso. O disco foi idealizado basicamente para os fãs, e se o objetivo era realmente esse eles acertaram em cheio.

Produzido por Stephen Street (Blur, Kaiser Chiefs), Roses traz o pop elegante, a mistura de folk celta com rock inglês dos anos 80 que deram identidade a banda, além, é claro, da voz delicada de Dolores. São 11 faixas e a receita é a mesma, leveza, canções bem arranjadas e bonitinhas fazem parte do cardápio, ou melhor, do repertório.“Tomorrow”, cartão de visitas do novo disco já nasce como hit. Destaque também para as ótimas “Show me the way”, “Waiting in Walthamstow”, “Schizophrenic Playboy” e “Fire & Rain”. O Cranberries é sem dúvida uma das minhas bandas favoritas, reúne um pop rock de refrão fácil, sem ser chato, e um tom levemente melancólico. Mesmo sem grandes surpresas, Roses exala bom gosto. Disco sob medida para matar as saudades.

Novidades da música brasileira em 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012
O ano começou bem com dois grandes lançamentos da música brasileira, o novo trabalho de Céu “Caravana, sereia, bloom” , que adorei, mais intimista que o disco anterior “Vagarosa” (2009), Roberta Sá com “Segunda pele”, disco mais dinâmico, menos óbvio, e Lucas Santtana com “O Deus que devasta mas também cura”. E o ano segue com algumas novidades. Tulipa Ruiz que lançou em 2010, “Efêmera”, um dos melhores discos daquele ano, entra em estúdio em abril e pretende lançar até o segundo semestre o seu novo álbum. A produção continuará a cargo do seu irmão e guitarrista, Gustavo Ruiz. Rita Lee também irá lançar seu novo disco “Reza”,  o CD será distribuído pela Biscoito Fino. Quem pensava que ela iria se aposentar após ter declarado que não irá mais fazer shows, enganou-se. O novo disco de Zeca Baleiro, “O disco do ano”, também está prestes a sair do forno. Ele retorna a uma grande gravadora, a Som Livre, depois de lançar alguns títulos pelo seu próprio selo, o Saravá Discos. Tem a estreia da Banda Uó com um trabalho de inéditas e canções autorais depois do lançamento de um EP de versões que misturam indie rock ao tecnobrega e clipes que bombaram na internet. Eles ainda pretendem lançar clipes para todas as músicas do CD, que tem previsão de sair em junho. E por falar em tecnobrega, Gabi Amarantos está chegando com “Treme” e promete sacudir a indústria da música.

São promessas, ainda para esse ano, materiais inéditos de Rodrigo Amarante, Otto, Nando Reis, Gilberto Gil, Titãs e Nação Zumbi. Além disso teremos o lançamento de um disco tributo a Caetano Veloso, que comemora 70 anos em agosto, com participações de artistas de diferentes gerações e estilos. Preparem os bolsos, encham os cofrinhos ou organize o HD de seu computador, porque esse ano promete.

Magary Lord inventando moda

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


Não, não é pagode, nem axé. Acabou o carnaval, mas o ritmo do verão foi outro, é o Black Semba do Magary Lord, artista que vem conquistando público e espaço cada vez maior na mídia. O som é uma mistura de ritmos que vem da África, samba do Recôncavo e a black music. Magary Lord é o nome artístico de Francisco Pereira Chagas, percursionista e compositor que começou se apresentando na cena alternativa baiana e foi o cantor revelação desse carnaval. O primeiro disco foi lançado em 2007, mas foi o segundo, Escutando Magary, que o reconhecimento e o sucesso vieram. Destaque para as canções “Inventando moda” e “Joelho”. Inclusive a música “Circulou”, destaque no carnaval e cantada pela banda Eva, é uma de suas composições. 

Clique e ouça "Inventando moda", é muito bacana.


Cansei de Ser Sexy – La Liberación

sábado, 21 de janeiro de 2012

A Banda Cansei de Ser Sexy ou simplesmente CSS não entrou para nosso top 10, mas, sem dúvida, seu disco mais recente, La Liberación, entra na lista dos 15 melhores de 2011. A banda formada por Lovefoxxx, Ana Rezende, Luiza Sá, Carolina Parra e Adriano Cintra, opa! o Adriano deixou o grupo recentemente, resultado de prováveis desentendimentos. Apesar da perda, a turma continua em turnê mundial mesmo sem ele. CSS ficou famosa na cena indie com sucessos que viraram hits como “Alala”, "Meeting Paris Hilton" e “Music is my hot hot sexy”. A banda ganhou destaque e projeção na internet conquistando o público gringo ficando mais conhecidos fora do Brasil.

Nesse terceiro disco o CSS resgata suas origens, porém de forma mais madura, harmônica e sem os exageros do antecessor Donkey (2008). La Liberación é bastante experimental e mistura o melhor dos seus trabalhos anteriores. Nesse sentido, a sonoridade surpreende pela diversidade. Instrumentos como saxofone, piano, trombeta e guitarra espanhola tem presença marcante na estética do álbum. Composto de 11 faixas, cada uma aponta para uma direção, no entanto, sem perder a identidade. La Liberación é, portanto, um disco dinâmico, envolvente e interessante. 

A faixa de abertura “I love you” tem uma pegada eletrônica e dançante, um bom convite para ouvir o que vem pela frente. Em seguida a vibe muda de lugar e dá espaço para “Hits me like a rock”, uma espécie de eletro-reggae com um refrão grudento e irresistível. A música conta ainda com a participação vocal de Bobby Gillespie, do Primal Scream. A referência flamenca entra em cena em “City grrrl”, a guitarra espanhola dialoga com o pop eletrônico em uma das músicas mais legais, que já tem clipe no melhor estilo Cansei de Ser Sexy. A banda arrisca no espanhol na canção que dá nome ao disco, mostrando energia e a irreverência que lhes são típicas, “Grita! Grita! Mami! Mami! Mami! Grita! La-la-la Liberación, Te-te-te Liberes” diz o refrão. No final eles chutam o pau da barraca e cantam "Fuck everything". Destaque também para a deliciosa You cold have it all”, as bacanas “Rhythm to the rebels” e Red alert”. O humor escrachado, a diversão e a vontade de experimentar vêm com força total nesse novo trabalho. Veja o clipe de “Hits me like a rock” e divirta-se! O clipe de "City grrrl" também já está disponível.


Os melhores de 2011 - Top 10 Nacional

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Para quem acha que a música brasileira está em crise, realmente não tem percorrido os lugares certos. O ano de 2011 foi marcado por grandes lançamentos. Veteranos e novatos destacaram-se na cena musical com discos bem bacanas, alguns foram destaques nas listas dos melhores do ano em diversos blogs de música, rádios e revistas especializadas. O Todos os Ouvidos se baseia em algumas dessas indicações e monta sua própria lista, servindo também como uma recomendação aos leitores do blog. 

Segue abaixo os 10 melhores álbuns nacionais de 2011:


10. Mallu Magalhães - Pitanga
Apesar de ter certa resistência a Mallu Magalhães, dessa vez ela me surpreendeu verdadeiramente. Pitanga é um disco envolvente, leve, gostoso e cheio de amor. O álbum revela novas facetas da cantora, que dessa vez dá mais destaque a bossa nova, MPB e a surf music. O folk aparece com menos frequencia, e os temas juvenis, característicos dos trabalhos anteriores, dão lugar ao romantismo. O álbum tem um toque todo especial de Marcelo Camelo que assinou a produção. Destaque para as músicas "Velha e Louca", "Sambinha bom", "Youhuhu".


9. Los Porongas – O Segundo Depois do Silêncio
Grupo acreano, pouco conhecido pelo público, lançou seu segundo disco e se destacou entre a crítica. Difícil encontrar essa preciosidade, mesmo para quem vive garimpando novidades por aí. Com 12 faixas, uma produzida em parceria com Dado Villa-Lobos (Legião Urbana) “Sangue Novo”. O álbum explora novas sonoridades, instrumentos como metais, viola caipira e piano, além de participações especiais, como Hélio Flanders (Vanguart) e Maurício Pereira (ex-Mulhers Negras). Uma maravilha para os ouvidos. Destaques: "Fortaleza", "Desordem (Time Out)", "A Verdade".

8. Cícero – Canções de Apartamento
Álbum de melodias e letras delicadas. Uma bossa nova repaginada com um repertório repleto de boas referências da MPB. Um bom início de carreira para um artista talentoso. Comece ouvindo "Tempo de Pipa" e viaje nas letras e sonoridade desse disco envolvente.
7. Chico Buarque – Chico
Álbum ansiosamente aguardo que não agradou a todos, esperava-se algo mais. O disco está disposto em dez faixas correspondendo a apenas trinta minutos de música, o que gera um pouco de frustração nos fãs. Porém, Chico optou pela simplicidade e uma aura intimista nesse novo trabalho, deixando de lado letras muito longas. A temática é relativamente pessoal. Destaques para "Essa Pequena", "Meu Querido Diário".

6. Marisa Monte – O Que Você Quer Saber de Verdade
O aguardadíssimo oitavo disco de Marisa Monte chegou exaltando a felicidade e o amor. Alguns fãs e críticos se frustraram por terem considerado um disco fraco, simples e convencional demais, principalmente se comparado aos seus trabalhos anteriores “Infinito Particular” e “Universo ao Meu Redor” (2006) . Mas, o grande mérito do álbum é exatamente esse, a simplicidade. A cantora parece cantar de forma livre e sem pretensões. A proposta é exaltar o romantismo e a felicidade, como em "Amar Alguém",  "Seja Feliz", "O que Você quer Saber de Verdade".

5. Lenine – Chão
Sou suspeito ao falar de Lenine, que é um artista que adoro e considero dos mais criativos da música brasileira. O novo álbum do cantor aposta no experimentalismo, mas sem exageros. Todas as canções são molduradas pela captação de ruídos e sons naturais, como em "Se não for Amor, Eu Cegue" conduzida por batimentos cardíacos e ruídos de respiração, "Uma Canção e Só" ouvi-se o apito de uma chaleira, em "Malvadeza" percebe-se o barulhinho de cigarras, ou em "Envergo, mas não Quebro" o som de motosserra e a derrubada de uma árvore.  Em apenas 28 minutos de música, Lenine transmite uma sensação de acolhimento profundo e ímpar. 


4. Mariana Aydar – Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo
Diferentemente do ensolarado “Peixes, pássaros, pessoas” (2009), nesse novo disco Mariana se distancia do samba trazendo um repertório mais diversificado. O Jazz, tango, carimbo e forró, são alguns dos ritmos explorados. A diversidade pode ser justificada pela contribuição do baiano Letieres Leite, fundador da Orquestra Rumpilezz, e que coproduziu o disco. Com poucas faixas autorais, o álbum é basicamente constituído de regravações, que por sinal são ótimas. Destaque para Nine Out of Ten”, de Caetano Veloso, gravada no disco Transa, de 1972 e "Vai Vadiar", conhecida na voz de Zeca Pagodinho. 


3. Criolo – Nó na Orelha
Não entendo muito de rap ou hip hop, mas não tinha como ficar indiferente a um artista que foi o destaque do ano, tanto por estar presente em diversas listas de melhores álbuns de 2011 como pelos prêmios adquiridos no VMB. A audição de Nó na Orelha foi uma experiência maravilhosa. O álbum extrapola qualquer tipo de rótulo ficando difícil classificá-lo. É muito mais que um disco de rap. Destaque para as canções "Bogotá",  "Não existe amor em SP"



2. Karina Buhr – Longe de Onde
Karina nos encanta pela sua delicadeza e acidez. Um disco cheio de vibração e uma estética impecável. Mais informações no post “Karina Buhr me dá asas!”



1. Gal Costa – Recanto
O sangue tropicalista ainda corre em suas veias. Gal Costa apresenta um álbum experimental, inovador, ousado e totalmente imprevisível. Sob a batuta de Caetano Veloso, responsável por todas as composições e que também assina a produção do disco, Gal usa sua voz inconfundível em arranjos eletrônicos. Com uma parceria dessas e com um disco fora do comum, o Todos os Ouvidos elege Recanto o disco do ano. Destaque para "Neguinho", "Miame Maculelê", "Autotune Auterotico", "Recanto Escuro", "Mansidão".