Quando menos é mais

sexta-feira, 23 de abril de 2010
Quem disse que tamanho é documento? Pelo menos no mundo da música não é. Toda vez que vejo um programa de calouros, com aspirantes a novos cantores, me dá um frio na espinha. Parece que a maioria deles foram tirados do mesmo balaio. Além de se preocuparem demais com suas performances querem mostrar os seus poderes vocais, e é aí que mora o perigo, alguns exageram tanto que faltam estourar nossos tímpanos. Como se gritar, ou esgoelar-se, fosse pré-requisito para transmitir emoção ou tirar o melhor de uma música.

Claro que alguns cantores têm um poder vocal fantástico e é legítimo explorar esse dom, a questão é saber explorar sem exageros, sem muita presepada. Ter uma “voz pequena” não significa ter menor qualidade técnica, refere-se a artistas que tem menor potencia e volume sonoros, porém podem apresentar tanta expressividade quanto àqueles com voz de alcance poderoso. Hoje ter uma voz poderosa não é exigência absoluta na música, há alguns gêneros que valorizam a voz mínima como a Bossa Nova, por exemplo. Para alguns cantores isso é uma limitação física, enquanto outros limitam seus recursos vocais em busca de uma interpretação mais intimista e econômica, a exemplo de João Gilberto e a cantora paulista Tiê.

Particularmente, sou adepto do canto minúsculo, adoro o clima intimista que alguns artistas conseguem transmitir, exaltando emoções sem apelar para artifícios. Adoro a voz meiga e aconchegante de Fernanda Takai, que consegue interpretar canções tristes e sofridas sem melodramas, a exemplo da canção “Luz Negra”, “Insensatez”, ou na interpretação emocionante e ímpar de “Ben”, de Michael Jackson. Outra que tem o canto contido é a francesa Carla Bruni, cujos sussurros conseguem transmitir toda sensualidade que a letra da música “Tu Es Ma Came” propõe. A cantora Lily Allen, com seu canto infantilizado e meigo, transmite facilmente o tom de deboche em canções como “Smile”.

Enfim, outras cantoras se encaixam no padrão de voz pequena, mas não deixam de ter um alcance emocional enorme. Elas se diferem de Whitney Houston e Celine Dion, por exemplo, que acabam por banalizar o sentimento presente nas letras de suas canções. De qualquer forma, para os ouvintes, o que importa é o que o artista consegue fazer com os dons que tem. Portanto, tamanho não é documento.

Renato Russo de volta em "Duetos"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Todo álbum póstumo pode soar como oportunista e caça-níquel, mas acredito que esse não seja o caso de “Renato Russo – Duetos”, uma edição que celebra os 50 anos que o cantor faria se estivesse vivo. O projeto foi idealizado por Marcelo Fróes, com total apoio da família Manfredini e lançado no final do mês passado. São 15 faixas ao todo em que Renato aparece dividindo os vocais com amigos. Mas o que pode parecer um insulto, nesse caso, é o fato de sete desses duetos não terem acontecido realmente, ou seja, os convidados emprestaram suas vozes para compor as canções, foram usados registros antigos e feita a montagem, mixagem, enfim, tudo através do computador e recursos tecnológicos disponíveis. Outra questão que pode parecer polêmica é ele não estar vivo para escolher com quem gostaria de dividir os vocais.

Tudo bem, caro leitor, isso pode parecer estranho. No entanto, depende da forma como o disco é produzido. Primeiro: não foram quaisquer pessoas que foram convidadas a fazer parte desse projeto, foram amigos e artistas que Renato admirava e com certeza ele não teria problema nenhum em dividir os vocais. Segundo: muitos discos de duetos recentes são feitos sem que os artistas estejam dividindo o mesmo estúdio, exemplos disso não faltam. Terceiro: todo fã de um artista que já morreu gosta quando se descobre algo inédito, ou algum registro antigo. É claro que tudo deve ser bem trabalhado, de bom gosto, sem muita promoção e banalidade, e foi isso que eu vi em “Renato Russo – Duetos”. Apesar das críticas, algumas canções me soaram naturais. Alguns dos chamados “falsos” duetos me provocaram muita emoção, a exemplo de “Strani Amori” com Laura Pausini, “Like a Lover” com Fernanda Takai, “Change Partners” com Caetano Veloso, e “La Solitudine” com Leila Pinheiro, ficaram muito bem feitas. É como se Renato estivesse vivo, é como se ele estivesse de volta. "Like a Lover" é, inclusive, inédita e a primeira música de trabalho do disco, a faixa é uma versão em inglês de "O Cantador", composta nos anos 60 por Dori Caymmi e Nelson Motta e gravada originalmente por Sérgio Mendes.

Polêmicas à parte, “Renato Russo – Duetos” é um disco que vale a pena, dá para matar a saudade. Antes de qualquer dúvida, ouçam e vejam se gostaram, porque eu gostei do que ouvi.

As faixas são as seguintes:

1. "Like a Lover" - com Fernanda Takai
2. "Celeste" - com Marisa Monte
3. "Vento no Litoral" - com Cássia Eller
4. "Mais Uma Vez" - com 14 Bis
5. "A Carta (The Letter)" - com Erasmo Carlos
6. "A Cruz e a Espada" - com Paulo Ricardo
7. "Cathedral Song" - com Zélia Duncan
8. "Change Partners" - com Caetano Veloso
9. "Strani Amori" - com Laura Pausini
10. "La Solitudine" - com Leila Pinheiro
11. "Come Fa Un'Onda" - com Célia Porto
12. "Só Louco" - com Dorival Caymmi
13. "Esquadros" - com Adriana Calcanhotto
14. "Nada por mim" - Com Herbert Vianna
15. "Summertime" - com Cida Moreira

Ps: Gostaria de colocar apenas o audio da música, mas não rolou, então postei um "video" do youtube, com a letra da música Like a Lover.

O Pop Made in Japan

terça-feira, 13 de abril de 2010
Esse post será dedicado a uma banda bem bacana que eu descobri não faz muito tempo, e pesquisando sobre sua história, ouvindo suas músicas, vendo seus vídeos, percebi o quanto a música japonesa é legal, mesmo sem entender p#%&* nenhuma. Estou falando do Pizzicato Five, que parece ter saído de um desenho animado japonês, portanto, não estranhe se soar familiar, pois eles já fizeram parte de trilha sonora de desenhos, filmes e games. O Pizzicato Five ou simplesmente P5, foi o grupo pop japonês mais conhecido pelo público oriental, com destaque para a dupla Maki Nomiya e Yasuharu Konishi.

Com uma sonoridade simples, porém criativa, e performance irreverente, o Pizzicato Five foi uma das revelações do cenário pop japonês. A sua marca registrada era justamente aliar o elegante figurino sessentista da vocalista Maki Nomiya, com minissaias, estampas geométricas, cabelo assentado, tudo muito pop, muito cool. Algumas canções ganham título em francês, italiano, inglês e até português, o que lhes confere um caráter ainda mais universal, mesmo elas sendo executadas em japonês. Uma curiosidade: o P5 fez uma versão (não em japonês, mas em inglês) da música “Garota de Ipanema”, que ficou super interessante, presente no álbum Made in Usa (1994). Nesse mesmo álbum está um dos seus principais hits “Twiggy Twiggy”, conhecido pelo seu divertido videoclipe, que foi razoavelmente executado na MTV Brasil, eu mesmo já tentei imitar aqueles passinhos.

A banda acabou em 2001, mas só recentemente virei fã. Gosto da voz e do chame da Maki Nomiya, ela é irresistível, assim como o seu Twiggy Twiggy. Alguns de vocês podem não gostar do Pizzicato Five, achar chato, bobo, nerd, engraçado, sem graça, enfim, podem achar um milhão de coisas, é um pop sem grandes pretensões, porém tão interessante quanto o seu país de origem. E para finalizar em grande estilo, segue o videoclipe “Twiggy Twiggy” para vocês se divertirem. Se gostarem indico ainda "La Règle Du Jeu", "Triste" e "Baby Portable Rock".

O lado negro e colorido de sair do armário

terça-feira, 6 de abril de 2010

Esse não era o tema previsto para essa postagem, mas antes que o assunto esfriasse resolvi que essa era a hora certa de tirar do armário, ou melhor, da cabeça, tudo que penso a respeito dos riscos que a carreira de um artista pode enfrentar quando ele assume sua homossexualidade. Sem preconceito e hipocrisia, isso é um fato que pode sim afetar para o bem ou para o mal a carreira de um artista.

Recentemente o cantor porto-riquenho Ricky Martin, assumiu ser gay para o público em seu site, “Hoje aceito minha homossexualidade como um presente que a vida me deu”, declarou ele. Nada que pudesse gerar tanta surpresa, apesar dos inúmeros artigos e notícias relacionadas em revistas e jornais de fofocas mundo a fora. Essa era uma questão que o perseguia a muito tempo. Talvez algumas fãs estejam decepcionadas, uma decepção passageira, mesmo porque não será por causa desse pequeno detalhe que elas deixaram de ser fãs ou queimarão seus discos. Posso não estar certo, mas o máximo que pode acontecer é ele deixar de ser um símbolo sexual feminino e passar a ser um símbolo sexual dos gays, como George Michael, por exemplo. Ou quem sabe ele iniciará uma nova etapa de sua carreira com muito mais liberdade criativa e muito mais feliz.

Com uma carreira consolidada, milhões de discos vendidos, entendo que a decisão de tornar pública sua opção sexual tão tardiamente tenha sido coerente, a possibilidade de rejeição, é nesse caso, algo muito provável de acontecer, mesmo que seja apenas inicial. Muito pior seria protagonizar algum escândalo e ser forçado a sair do armário como foi o caso de George Michael, que em 1998 foi preso em Los Angeles após ser flagrado fazendo sexo com um homem em um banheiro público, depois disso seu sucesso nunca mais foi o mesmo.

Assumir a homossexualidade nunca foi uma tarefa fácil não só no mundo da música como em todas as instancias artísticas, exatamente por oferecem algumas limitações, como por exemplo, estar restrito a um tipo determinado de público. É claro que nem todos encontram problemas em sair do armário, ganham admiração e seguidores, caso de algumas artistas da MPB. Mas por conta do conservadorismo do público isso não pode ser concebido a todos.