A entrevista de Nick Hornby à Veja

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Semana passada a revista Veja apresentou uma entrevista com o escritor inglês Nick Hornby, nas páginas amarelas. Ele é autor de Best-selers como Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, também responsável pelo roteiro do filme Uma Educação, que já teve sua estreia no Brasil, já vi o trailler e quero muito assisti-lo. Mas, a parte mais interessante da entrevista, feita pelo jornalista Jerônimo Teixeira, intitulada "O Pensador do Pop", é quando Hornby fala sobre música. Achei a entrevista bem esclarecedora e interessante, na entrevista Hornby diz que o Ipod e a internet mudaram completamente a forma como os fãs se relacionam com a música e que o rock já não serve mais para os jovens expressarem sua rebeldia. Gostei bastante.

* Segue uma parte da entrevista:

A música pop ainda é um canal para os jovens expressarem suas diferenças em relação aos pais?
Isso não funciona mais bem assim. O rock agora é como a literatura: existe uma biblioteca estabelecida. Você ouve o que está sendo feito hoje, e se dá conta de que algumas coisas se parecem com Jimi Hendrix ou Pink Floyd, e volta a escutar esses músicos. Sei que os jovens fazem isso: estão ouvindo Jimi Hendrix como quem lê Flaubert.

Então não há mais música para expressar rebeldia?
Bem, fora do rock, ainda há algumas formas musicais que os pais têm dificuldade para entender. O hip-hop é um exemplo, não tanto pela música em si, mas pela atitude social que seus artistas transmitem. É irônico: achamos que somos muito liberais e que nada do que nossos filhos façam pode nos chocar. O que nos choca no hip-hop são o machismo e o materialismo das letras. De certo modo, ficamos incomodados com o conservadorismo dessa música.

Em um artigo do ano passado sobre música digital, o senhor comenta que "uma música de três minutos não vai durar a sua vida toda". É uma ideia um tanto diferente da noção tradicional que temos de arte, como algo duradouro, que fala para apreciadores de todas as gerações.
Na verdade, não acho que as duas ideias sejam necessariamente incompatíveis. Uma boa canção pop pode ter algo a dizer a sucessivas gerações. Mas, no meu consumo diário de música, não quero ouvir algo que já ouvi 500 vezes antes. Ainda ouço Bob Dylan de vez em quando, mas não sei se vou ouvir, por exemplo, Blonde on Blonde do começo ao fim. Meus filhos ainda podem ter uma relação intensa com esse disco de Dylan. Trata-se de uma obra de arte que resiste ao tempo.

O iPod e a música em formato digital mudaram o modo como o ouvinte se relaciona com a música?

Sim. Foi uma mudança completa, e não sei ainda se para o bem ou para o mal. Há inúmeras comunidades organizadas em torno da música no mundo virtual, mas esse intercâmbio não existe mais no mundo real. Em Londres, pelo menos, não dá mais para ir a uma loja de discos para se encontrar com pessoas que tenham gosto musical similar ao seu. Esse tipo de loja, que eu retratei em Alta Fidelidade, não existe mais - aliás, seria impossível escrever esse livro ambientado nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, cresceu demais o volume de músicas disponíveis.

Como assim?
Na adolescência, minha relação com a música era muito íntima e intensa, porque eu não tinha dinheiro para comprar muitos discos. Comecei minha coleção com o primeiro disco- solo do Paul McCartney, que eu ouvi bastante. Comprei outros discos, mas não foram muitos. Hoje é bem diferente. Outro dia, uma sobrinha minha me pediu algumas indicações de música. Dez minutos depois, eu havia carregado perto de 200 álbuns no iPod dela. Uma quantidade dessas seria um sonho inalcançável quando eu tinha 15 ou 16 anos. Não sei como os jovens se relacionam hoje com a música, que importância lhe dão, com esse acesso tão fácil a uma quantidade tão grande.

O senhor sente falta das lojas de discos que fecharam?
Não sou um nostálgico. Não temos mais esses lugares de encontro para falar pessoalmente com outros fãs de música. Mas a internet oferece compensações. Eu vejo muitos blogs de MP3, que funcionam mais ou menos como lojas de discos - mas dando algumas canções de graça. Como consumidor, não estou preocupado com os formatos digitais. É como profissional de uma área criativa que eles me preocupam.

Por causa da dificuldade de cobrar por produtos digitais que caem na rede?
Sim. Daqui a dez anos, poderá ser difícil fazer dinheiro com livros, com música ou com filmes. Será um obstáculo para a profissionalização do artista. Pode afetar a qualidade das obras e até mesmo a idade das pessoas que fazem música. A única maneira de ganhar dinheiro com música será fazendo turnês a todo momento, o que, com exceções, não é uma atividade tão comum entre músicos mais velhos. Se você está na faixa dos 40 ou 50 anos e tem família, filhos para cuidar, a estrada não é necessariamente compatível com seu estilo de vida. A música pode acabar sendo como o serviço militar: algo que você faz por pouco tempo quando é jovem - e depois parte para outras coisas.

O senhor ainda compra CDs ou já aderiu completamente à música digital?
Não sou inteiramente digital. Compro CDs de vez em quando. Tenho a sensação de que, se não tenho a música fisicamente, ela se perde. Quando faço o download de alguns discos, uma semana depois não lembro mais quais eram. Já não sei mais o que tenho no meu iPod. É por isso que gosto de comprar os CDs mais importantes: é mais fácil lembrar deles quando estão visíveis em uma pilha na minha casa.


* Entrevista completa através do link : http://veja.abril.com.br/170210/pensador-pop-p-013.shtml

10 comentários:

cacaubertrand disse...

Ei muito bacana o seu blog. Parabéns =)

C & I disse...

Hum muito legal a entrevista,gosei meu blog tbm vai ter entrevistas apartir de amanhã

http://contemporaneoeindiscreto.blogspot.com/

HOJE REESTREIA.AS 10 NOVO BLOG.

Amanda Salvador disse...

uaaal! curti teu blog.

www.ararutadoce.blogspot.com

Nick disse...

Amei a entrevista, e concordo com a opinião dele, absulutamente verídico.
Hoje em dia o rock não é mais uma atitude e apenas uma apreciação para a burguesia.

Macaco Pipi disse...

bom conhece-lo
é uma criatura simpática

Camila Passatuto disse...

Rock se tornou literatura.
Que bom!

Deixe a literatura com a gente e as músicas com quem quiser \o/

Gutt e Ariane disse...

Ele prefere os cds, ja eu, prefiro e não abro mão dos meus vinis! O som do vinil é imbatível!! :D

Angélica Nunes disse...

Francamente... eu prefiro a musica digital direto da Net.. Nessa era de Ipod, Celular com mp3 e todas as sua musicas em grande maioria gravadas no seu pc para ouvir enquanto navega na net, acho que não tem nada melhor...


Quando não tinha Disco eu ouvia fita K-7 com o top 10 da radio gravada nela.. e eu tambem tenho litros de Cds poer causa de 1 ou 2 musicas boas... e hoje não escuto nenhum... XD

Acho que as gravadoras devem tentar se adptar aos novos tempos pois o que as pessoas querem mesmo é qualidade e praticidade.

Anônimo disse...

A ENTREVISTA MAIS ALTERNATIVA DA VEJA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS!

Pobre esponja disse...

Não conhecia esse cara, e é cedo para falar que conheci. Mas fui com a cara dele, e com as palavras. Concordo em muito com ele. Por que esses repórteres fazem perguntas tão idiotas? Acho que é para terem respostas geniais, só pode...

abç
Pobre Esponja

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